Cunhada pelo ex-chanceler Celso Amorim, a expressão diplomacia “ativa e altiva” guiou a política externa brasileira durante os anos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O resgate desse modelo, criticado pelos adversários como “ideologizado”, é um dos objetivos de um eventual governo Fernando Haddad (PT). O espírito da estratégia sobreviveu politicamente a seu mentor. E deve ser implementado no caso de novo mandato petista, ainda que Amorim não esteja no governo. Na visão de fontes próximas ao Itamaraty, o ex-chanceler está desgastado.
Em caso de vitória do PT neste domingo, uma das cotadas para comandar o Ministério das Relações Exteriores é Maria Luiza Ribeiro Viotti, embaixadora do Brasil junto às Nações Unidas (ONU) entre 2007 e 2013. Outra aposta é Maria Edileuza Fontenele Reis, uma das principais negociadoras brasileiras nos Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A matriz é a mesma dos governos do PT: integração regional, com prioridade “absoluta” ao Mercosul. Haddad afirmou em entrevistas que o acordo entre o bloco econômico regional e a União Europeia é bem-vindo desde que com benefícios simétricos.
– É pior um acordo ruim do que acordo nenhum – diz.
Na América Latina, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, é visto como parceiro. Haddad prevê a retomada da ideia de desenvolver obras de infraestrutura na região e criação de novos mecanismos de financiamentos. A estratégia prevê valorização da União de Nações Sul-americanas (Unasul) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Outro aspecto que retorna à agenda é a cooperação Sul-Sul, com retomada de acordos com países africanos em saúde, educação e segurança alimentar e nutricional. A promessa é também de valorização de parcerias com nações do Oriente Médio e da Ásia Central. Os Brics são estratégicos em contraponto político aos Estados Unidos.
Embora não despreze parcerias bilaterais com europeus e americanos, Haddad deixa clara sua oposição ao isolacionismo de Donald Trump. Por isso, destaca a intenção de fortalecer as instituições multilaterais, como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio como forma de “descentralizar a ordem política mundial”.
O entendimento entre os estrategistas é de que o mundo mudou desde que o PT saiu do Planalto. Há novos desafios: Brexit (decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia), a queda de braço entre EUA e Rússia, a aproximação entre americanos e norte-coreanos e, principalmente, a crise dos refugiados venezuelanos na fronteira brasileira. Haddad afirmou que a Venezuela “não pode se caracterizar como uma democracia” e sugere que o Brasil atue como mediador da crise, sem isolar o vizinho.
O candidato petista também diz que o Brasil tem a tradição de ser uma nação “acolhedora” e promete uma Política Nacional de Migrações, que “reconheça de forma ampla os direitos dos refugiados”, embora não a detalhe em seu plano de governo.
Principais pontos do plano de governo de Haddad para a política externa
— Resgatar a política externa “ativa e altiva” do governo Lula.
— Ênfase em negociações multilaterais, mas busca por acordos comerciais bilaterais também.
— Revitalizar integração da América Latina, valorizar Mercosul e revitalizar a Unasul.
— Reaproximação com a África e fortalecimento do bloco dos Brics..
— Reforma do Conselho de Segurança da ONU.
— Retomada de diálogo com a Venezuela.