Seis grandes organizações não-governamentais brasileiras e internacionais emitiram, nesta quinta-feira, um comunicado conjunto no qual denunciam a intimidação de jornalistas durante a campanha eleitoral. A nota exige que os candidatos à Presidência Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) denunciem "de forma contundente" as ameaças e atos de violência contra profissionais que cobrem a campanha eleitoral.
As organizações que assinam o documento são Artigo 19, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Conectas Direitos Humanos, Human Rights Watch e Repórteres sem Fronteiras (RSF).
O comunicado registra as ameaças online e por telefone sofridas pela repórter especial Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, após a publicação da reportagem sobre a suposta campanha de empresários favoráveis ao candidato do PSL para enviar notícias falsas para milhões de brasileiros por meio do WhatsApp. A profissional teve sua conta no app hackeada. Após a reportagem, Mauro Paulino, diretor-executivo do Datafolha (ligado à Folha de São Paulo)¸ também recebeu ameaças em um aplicativo de mensagens e em sua casa.
– As ameaças são inaceitáveis; elas devem ser investigadas e todos os envolvidos devem ser responsabilizados a fim de proteger o jornalismo responsável, investigativo e independente – disse Juana Kweitel, diretora executiva da Conectas Direitos Humanos.
– As ameaças contra Patrícia Campos Mello e outros jornalistas representam uma escalada alarmante da retórica contra a imprensa neste ciclo eleitoral contencioso no Brasil – disse Natalie Southwick, Coordenadora do Programa do CPJ para a América Central e do Sul.
A Abraji documentou 141 casos de ameaças e violência contra jornalistas que cobriam as eleições. A maioria deles é atribuída a partidários de Bolsonaro, enquanto o restante é atribuído a apoiadores do Partido dos Trabalhadores (PT).
Os ataques contra mulheres jornalistas frequentemente incluem violências de gênero, incluindo assédio sexual online e ameaças de violência sexual, segundo a Artigo 19.
– A fim de demonstrar comprometimento com a preservação da democracia, ambos os candidatos devem condenar qualquer ameaça ou ataque contra jornalistas por fazerem seu trabalho e devem se abster de qualquer discurso que incite a violência – disse Daniel Bramatti, presidente da Abraji.
Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil, afirmou que os candidatos à Presidência devem defender o direito dos jornalistas de informar o público e o direito do público de ser informado.
– Qualquer um pode discordar de uma reportagem, e deve ter o direito de fazê-lo publicamente, mas ameaçar o jornalista e incitar outros a fazer o mesmo não só põe em perigo a segurança pessoal dos jornalistas, mas prejudica a liberdade de expressão e a democracia – disse.