A descoberta dos pacotes suspeitos de conter material explosivo nas casas dos Obama e dos Clinton e a evacuação da redação da rede CNN em Nova York nesta quarta-feira guardam algumas coincidências. A primeira e mais óbvia: as ameaças estão relacionadas à radicalização da eleição de 6 de novembro nos Estados Unidos.
Em duas semanas, os americanos irão votar no chamado pleito de meio de mandato (midterm elections, como eles chamam), quando serão renovados 35 assentos do Senado e todos os 435 da Câmara dos Deputados (Representative House).
A disputa está sendo vista como um plebiscito sobre a administração de Donald Trump, eleito em 2016. É um tudo ou nada para o republicano porque, se ele perder a maioria no Capitólio, ficará de mãos amarradas pelos próximos dois anos — sem condições de conseguir aprovar suas medidas, como, aliás, Barack Obama ficou depois de 2014 até o fim do mandato.
Trump tem ainda outros motivos para perder o sono nas próximas semanas: se os democratas conquistarem a maioria nas duas Casas poderão alavancar investigações até agora represadas pela tropa de choque republicana. A principal delas: acelerar as apurações sobre a chamada trama russa, a suposta interferência do Kremlin na eleição presidencial. Esta investigação sozinha tem potencial para dar início a um processo de impeachment contra o presidente.
Para conquistar a maioria e definir o final antecipado do governo Trump, os democratas precisam manter os 26 assentos que já possuem no Senado e tirar outros dois dos republicanos. É difícil, a batalha será pegada. Na Câmara, o partido necessita manter os 194 deputados que já têm e garantir outras 24 cadeiras que, hoje, estão nas mãos dos republicanos.
A segunda coincidência levantada pelos episódios desta quarta-feira é que todos os pacotes foram direcionados para democratas: as famílias Obama, na casa de Washington (Barack e Michelle têm outra em Chicago), e Clinton (Bill e Hillary moram nos arredores de Nova York). Há também uma relação direta com um artefato explosivo encontrado na segunda-feira na mansão do magnata George Soros, nos subúrbios de Nova York. Aos 88 anos, o bilionário é hoje uma espécie de mecenas das causas progressistas pelo mundo. Nos Estados Unidos, com sua fortuna e fundação, Soros se tornou o grande financiador das causas democratas.
As ameaças indicam radicalização da campanha americana e uma clara tentativa de intimidação da oposição. Isso explica porque a Casa Branca trumpiana se antecipou em condenar os episódios.