Hoje, Donald Trump não dorme. Se o presidente americano leu nos últimos dias os relatórios de inteligência — algo que, segundo seus biógrafos, ele não tem paciência para fazer —, há motivos para perder o sono.
Um documento divulgado nesta sexta-feira pela rede CNN afirma que o governo da China, além de ser o Malvado Favorito nas questões comerciais americanas, pode estar se tornando também uma ameaça nuclear. O relatório informa que o Exército de Libertação Popular (ELP), como são chamadas as forças armadas chinesas, estaria desenvolvendo ativamente seus bombardeiros de longo alcance e "provavelmente" treinando seus pilotos para missões direcionadas aos EUA: "Nos últimos três anos, o ELP expandiu rapidamente suas áreas operacionais de bombardeiros, adquirindo experiência em regiões marítimas críticas e provavelmente treinando para ataques contra alvos americanos e aliados", diz o texto em tradução livre.
O documento chama-se Annual Report on Military and Security Developments Involving the People's Republic of China (Relatório Anual sobre os Desenvolvimentos Militares e de Segurança Envolvendo a República Popular da China). Ao aperfeiçoar a tecnologia nuclear para embarcá-la em suas aeronaves de longo alcance, a China passaria a ser capaz de lançar armas nucleares por terra, mar e ar.
Também são interessantes os movimentos de ampliação da rede de alianças. O texto assinala que a China estabeleceu sua primeira base no Exterior no Djibuti, na estratégica entrada do Mar Vermelho, caminho para o Canal de Suez, e que "buscará estabelecer unidades militares adicionais em países com os quais mantém relações". O governo de Xi Jinping também estabeleceu suas forças recentemente no porto de Hambantota, no Sri Lanka, no sul do continente africano.
A estratégia é semelhante à adotada no passado pelos Estados Unidos, que dividem o mundo em áreas de influência militar (na América do Sul, por exemplo, o responsável é o SouthCom, com sede na Flórida), com bases aéreas e navais em várias nações.
Em uma demonstração de força, os militares chineses desembarcaram, em maio, bombardeiros Xian H-6K com capacidade nuclear em uma de suas ilhas artificiais no Mar do Sul da China pela primeira vez, em maio. No Brasil, a tensão naquela região do planeta, na maioria das vezes, fica restrita às discussões na academia e na diplomacia, mas este é um dos temas mais importantes em termos de geopolítica nesta segunda década do século 21. Uma das ações chinesas na área visa intimidar Taiwan, território considerado província rebelde pelo regime comunista, mas reconhecida por parte da comunidade internacional. Os EUA, por exemplo, são os principais aliados de Taiwan na região, municiando o governo com armas e parcerias comerciais. O Brasil não tem relações diplomáticas com a ilha, mas mantém escritórios de negócios e culturais.
A questão é apenas uma entre muitos outros interesses estratégicos no Mar do Sul da China. A imensa massa de água está situada ao sul da China, entre Vietnã, Malásia e Filipinas, cada um reivindicando um naco do mar como parte do território por onde passam, a cada ano, US$ 5 trilhões em mercadorias. A área também é rica em reservas de petróleo e gás. Só a China exige 80% do território marítimo. A disputa por suas águas e arquipélagos é considerada uma das mais perigosas da Ásia.