Entre 20 de dezembro de 2001 e 1º de janeiro de 2002, quando a católica Argentina deveria estar comemorando as festas de fim de ano, o país teve cinco presidentes. A renúncia de Fernando de la Rúa, após 36 horas de saques a supermercados e cacerolazos nas ruas, deram início a um ciclo que nossos vizinhos jamais vão esquecer. Ramón Puerta foi empossado presidente temporário. No dia seguinte, Adolfo Rodríguez Saá, governador da província de San Luis, foi escolhido pelo parlamento, mas renunciou em 30 de dezembro. No dia 31, Eduardo Camaño, presidente da Câmara, assumiu como novo interino até que Eduardo Duhalde fosse eleito em escolha indireta para dar alguma estabilidade ao avião descontrolado.
Doze dias e cinco presidentes! Com esse fantasma na mente, os argentinos observaram a cotação do dólar se alterar dramaticamente nos letreiros da Avenida 9 de Julio e da Calle Florida nos últimos dias. A economia costuma não só derrubar presidentes, mas tragar o país para o caos.
Trata-se do segundo grande baque ao governo de Mauricio Macri em seis meses. O primeiro foi o sumiço do submarino ARA San Juan, em novembro, com a morte de 44 marinheiros a bordo. A tragédia, o drama da espera por notícias e a maneira nada transparente com que o governo tratou o tema, atingiu a moral das forças armadas, costumeiramente influentes na política argentina, e arranhou a imagem internacional de exímio gestor do presidente.
Ontem, Macri buscou refúgio em seus homens e mulheres de confiança – na “mesa chica”, mesa pequena, onde costuma reunir seus mais chegados assessores para tomar decisões importantes. Por duas horas, ele manteve-se refugiado na residência de Olivos, com o chefe de Gabinete, Marcos Peña, a governadora de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, o chefe de governo portenho, Horacio Rodríguez Larreta, e seus assessores Mario Quintana e Gustavo Lopetegui. Do lado de fora, os mercados eram abertos. O dólar baixo dava algum alívio.
O governo tentou segurar o mergulho no precipício com alta de impostos e redução de gastos, sobretudo nas obras públicas – freio que, em algum momento, cobrará seu preço. Macri não tem maioria no Congresso, o que pode deixá-lo vulnerável. Sem o trunfo dos investimentos em obras públicas, perde capacidade de negociação.
O susto de maio pode não mergulhar, desta vez, o país no caos, mas tem potencial para sepultar os planos de reeleição no ano que vem.