Após deixar o porto de Rio Grande, na última quarta-feira, rumo a Punta Arenas, no Chile, o navio polar Almirante Maximiano recebeu ordem do comando da Marinha do Brasil para desviar sua rota para participar da megaoperação para tentar localizar o submarino argentino ARA San Juan. Por meio do alto-falante da embarcação, o capitão de Mar e Guerra Pedro Augusto Bittencourt Heine Filho, comandante do navio, informou a nova missão aos 79 tripulantes a bordo quando estavam na altura da cidade argentina de Bahía Blanca. Logo, os brasileiros na zona de busca pelo submarino, desaparecido desde o dia 15, com 44 marinheiros a bordo.
Na madrugada desta terça-feira, o capitão Heine, baiano de 46 anos, contou à coluna detalhes da operação. Parte das respostas foi dada por e-mail devido às dificuldades das comunicações no local. Na sequência, o militar enviou um áudio, complementando as informações (ouça acima). A entrevista foi concedida enquanto o navio Almirante Maximiano estava a 360 milhas náuticas (mais de 660 quilômetros) ao sul da cidade argentina de Mar del Plata, na longitude 59° W.
Depois de Punta Arenas, onde seriam embarcados mais 21 pesquisadores, a embarcação polar brasileira se deslocaria para missão na Antártica. A data de retorno ao Brasil estava prevista para abril de 2018. A seguir, trechos da entrevista do capitão Heine direto do local das buscas:
Como estão sendo feitas as buscas ao submarino?
O navio Almirante Maximiano está realizando buscas nas áreas determinadas pela Armada (a marinha) Argentina, utilizando os radares orgânicos do navio e vigilância visual redobrada, com uma velocidade que permite um maior detalhamento das buscas.
As condições do mar têm dificultado o resgate. Como está a situação nesse momento?
Em face das frentes frias que vêm da Antártica e sobem junto à costa da Argentina, temos enfrentado ventos de 20 a 45 nós (37 km/h a 83 km/h), com ondas de até seis metros de altura, em quase toda a área, desde que iniciamos as buscas. A frequência dessas frentes frias está fazendo com que o mar se mantenha agitado, com ondas elevadas. Por isso, temos adotado rumos que nos permitam navegar com segurança, sem interromper as buscas na área.
Vocês estavam indo para a Antártica quando receberam o alerta ordenando que participassem das buscas ao submarino. Onde estavam e como a tripulação reagiu?
Tínhamos desatracado do Rio de Janeiro no dia 10 e, depois de Rio Grande, no dia 15, com destino a Punta Arenas, no Chile. Navegávamos próximo à costa da Argentina, na altura da Bahía Blanca, cerca de 200 milhas náuticas após Mar del Plata, quando recebemos a determinação para demandar a área de buscas. Imediatamente, divulguei pelo sistema de distribuição de som do navio, para toda a tripulação e para os pesquisadores embarcados, que o navio havia sido acionado para integrar o esforço de buscas ao submarino ARA San Juan, que estava desaparecido. Alteramos o rumo do navio em direção à área determinada e chegamos na madrugada de domingo passado, quando nos apresentamos ao navio de apoio logístico ARA Patagônia, da Armada argentina, logo iniciando os procedimentos de busca. A tripulação do navio é excelente e, consciente da relevância do fato, tem estado totalmente envolvida nas buscas, tanto com os radares quanto na vigilância visual, a fim de identificar possíveis vestígios do submarino.
O senhor está esperançoso de encontrar o submarino? Ou acha que dificilmente a embarcação será localizada?
O esforço conjunto de vários países aumenta muito as chances de encontrarmos o submarino e resgatar os seus tripulantes com vida. Os diversos meios envolvidos, cada um com seus equipamentos, forma um conjunto muito forte que demonstra a solidariedade reinante entre os homens do mar. Sabemos que o nosso esforço é muito importante e, por isso, empregamos todo nosso tempo em prol das buscas.
Como as diferentes marinhas e forças armadas estão operando? Como é essa organização?
A Armada argentina definiu a área de buscas e, dentro dessa área, a dividiu em subáreas que estão sendo designadas para cada navio que se apresenta no local. A coordenação está muito bem feita, por meio de contatos pelos canais de voz, em VHF e HF. O esforço é compartilhado com outros meios navais e aeronaves, o que faz com que haja um apoio mútuo coordenado. Na madrugada de domingo entramos na área de buscas, fizemos contato com o navio de apoio logístico ARA Patagônia e logo inciamos os procedimentos de busca. O esforço está sendo compartilhado com outros meios navais, aeronaves, o que faz com que haja um apoio mútuo coordenado, aumentando muito as chances de encontrarmos o submarino. Toda a tripulação do navio está consciente da relevância da nossa participação e tem estado totalmente envolvida nas buscas. Nossa esperança é de que esses marinheiros do ARA San Juan possam logo retornar a seus lares e desfrutar de felicidade junto a seus familiares. Por isso, nós estamos aqui.