Eliana María Krawczyk, 35 anos, natural de Oberá, nunca havia deixado sua província, Misiones. Até os 21, sequer conhecia o mar. Ao terminar o Ensino Médio, inscreveu-se para o curso de Engenharia Industrial, mas duas tragédias familiares adiariam os planos: a morte de um irmão, em acidente de carro, e da mãe, vítima de infarto. Certo dia, pela internet, leu uma convocação para a marinha (a Armada, como dizem os argentinos). Foi a Posadas e se inscreveu. Conheceu o mar. Em 2009, virou oficial e, três anos mais tarde, tornou-se a primeira submarinista do país.
A história de Eliana junta-se a de Hernán Rodríguez, maquinista, a de Mario Toconás, cabo, 36 anos, e a de outros 41 marinheiros a bordo do ARA San Juan, submarino argentino desaparecido no Atlântico Sul.
São personagens até agora anônimos, cujos rostos a Argentina — e o mundo — começam a conhecer, enquanto aumenta, a cada minuto, a angústia. Estariam vivos mais de cinco dias depois do último contato? Por quantas horas mais há oxigênio capaz de prover a sobrevivência antes de o submarino se tornar um sarcófago gigante?
Momentos como esses costumam amalgamar não só os cidadãos do país que vive em expectativa por um final feliz quanto de pessoas que, mesmo em tempos de individualismo, ainda guardam alguma empatia pelo ser humano.
Às vezes, há milagres. Em 2010, o mundo acompanhou, por 69 dias, a incrível história dos mineiros chilenos que sobreviveram a uma explosão na mina San José. Era improvável que saíssem com vida, mas uma gigantesca operação internacional, inclusive com o uso de duas cápsulas da Nasa, subverteu o fim trágico.
Como repórter de ZH, estava entre as dezenas de jornalistas que acompanharam, um a um, sob o frio noturno do deserto de Atacama, cada um dos 33 serem puxados do fundo da terra. Todos vivos!
Às vezes, a arrogância sela o desastre. O caso argentino lembra os dias em que o mundo prendeu a respiração, 17 anos atrás, aguardando o resgate do submarino nuclear russo Kursk, no Mar de Barents. Batizada em homenagem à batalha naval ocorrida na cidade de mesmo nome, em 1943, a embarcação sofreu, em 12 de agosto de 2000, uma explosão a bordo. Por dias, o governo de Vladimir Putin relutou em aceitar a ajuda internacional, temendo roubo de informações militares. Quando em 21 de agosto, finalmente homens-rãs ocidentais abriram as escotilhas da embarcação, já era tarde. Todos os 118 tripulantes estavam mortos. Pior, soube-se que 23 haviam sobrevivido à explosão e resguardaram-se em uma réstia de oxigênio na proa. Ou seja, se Putin não tivesse sido tão cabeça dura e aceitado apoio internacional nos minutos seguintes à tragédia, alguém teria voltado para casa com vida.
Provavelmente, o presidente argentino, Mauricio Macri, aprendeu com os erros de Putin no caso do Kursk e os acertos de Sebastián Piñera na epopeia dos mineiros. O desaparecimento do ARA San Juan pode até terminar em tragédia, mas, diante do maior desafio de sua vida política, Macri, ao aceitar todo o apoio internacional possível, inclusive do rival Reino Unido, saiu acertando. Para o bem de Eliana, Hernán, Mario e todos os 44 da Argentina.