Arremedo de ditador, Nicolás Maduro resolveu nas horas que antecedem a eleição presidencial deste domingo na falida Venezuela disparar impropérios contra inimigos reais e imaginários, em sinal claro de que foi aceso o alerta vermelho no Palácio de Miraflores: o reinado bolivariano está sob risco. É sabido que o presidente não tem a popularidade de Hugo Chávez e tampouco certo senso de humor quixotesco que o padrinho político despertava em fóruns internacionais.
O finado Chávez foi protagonista de algumas das mais pitorescas cenas a descontrair os normalmente sisudos ambientes da diplomacia. Em 2006, no púlpito da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, chamou de “diabo” George W. Bush, que discursara antes. Teatral, fez o sinal da cruz e tascou:
– Este lugar ainda cheira a enxofre.
No ano seguinte, sua verborragia despertou no rei Juan Carlos, da Espanha, um irado e imortal pito:
– Por qué no te callas?
Maduro não consegue sequer despertar risos. No último comício antes do pleito, na quinta-feira, em Caracas, colecionou inimigos: mandou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ao c... e chamou o colega argentino, Mauricio Macri, de lixo, por ter recorrido ao FMI. Como de costume, escolheu os aliados errados: o turco Recep Tayyp Ergogan, e o regime iraniano dos aiatolás.
Nesta eleição, a oposição joga sua cartada final pela via democrática para desbancar o chavismo-madurismo do poder. Mas comete o mesmo erro que descortinou a ditadura lá atrás: chega rachada entre os que pregam a abstenção e os que resolveram pagar para ver. Henri Falcón escolheu a segunda opção. Na semana final, duas pesquisas de intenção de voto o mostraram à frente: o Datanálise deu a ele vitória, com 30% contra 20% de Maduro. O instituto Varianza aumenta a diferença a favor da oposição: 45,5% contra 24,9% do presidente.
A eleição vai ser definida por quem sair para a rua. Fala-se em participação pouco acima de 50%, o que dá margem para os dois lados: quem imagina que Maduro deve manter-se no poder facilitado pelo processo fraudulento e os que sonham com o fim do regime. Mesmo que vença, o chavismo-madurismo nunca chegou a uma eleição tão isolado, com ilhas de apoio na Bolívia, na Nicarágua e em Cuba. A América Latina, com regimes de centro-direita, não é a mesma de cinco anos atrás.