Corria 2005, quando a oposição venezuelana decidiu boicotar as eleições parlamentares. O que aconteceu em 5 de dezembro daquele ano? O governo conquistou todas as cadeiras da Assembleia Nacional, abrindo caminho para Hugo Chávez reinar soberano no país.
Quase 13 anos depois, a fracionada coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), que reúne as principais forças de oposição hoje em dia, incorre no mesmo erro ao anunciar que não irá participar das eleições presidenciais, dentro de exatos dois meses. Pode-se julgar nobre sua intencionalidade: tentar deslegitimar o pleito, no qual Nicolás Maduro, herdeiro de Chávez, buscará se manter no poder por mais seis anos. Mas, como estratégia, é um tiro no pé. Não funcionou, não funcionará.
Ainda que tenha mais força do que em 2005 – e também porque Maduro é um arremedo de Chávez, sem seu carisma, por exemplo –, a oposição não dispõe de um plano claro para amalgamar a sociedade contra o governo. Seus seguidores estão cansados, decepcionados até, após mais de quatro meses de protestos que só fazem aumentar os mortos — 125 só em 2017, anos em que, aliás, a oposição também não concorreu às eleições municiais. Mais uma vez: não conseguiu impedir o pleito, o mundo esperneou, mas o que veio já era esperado. Candidatos governistas venceram em 300 das 335 prefeituras o país – mais uma vez, em eleição, sem participação da oposição.
Mesmo que a MDU não participe do pleito de 22 de abril – ainda há possibilidade de mudança de ideia –, grupos minoritários opositores (como o partido Avançada Progressista, do ex-governador dissidente do chavismo Henri Falcón) provavelmente competirão, o que, na prática, legitima a provável eleição de Maduro. Lavar as mãos será como um sinal verde para a moribunda locomotiva do bolivarianismo puxar a Venezuela para o abismo.