Em países em situação de pré-guerra civil, basta um ato isolado, em um determinado dia: a morte de estudantes, a imolação de um manifestante, a tresloucada repressão policial. Um ato somente. E tudo descamba para o conflito total ou para a ditadura escancarada. Lembro de situações assim durante a Primavera Árabe, na Tunísia e na Líbia, e aqui, na América Latina, na crise em Honduras.
São momentos em que o palheiro está encharcado de gasolina. Só falta riscar o fósforo.
A Venezuela está assim. Por isso, esta quinta-feira, uma jornada de greve geral convocada pela oposição ao presidente Nicolás Maduro, será um dia delicado. Os manifestantes vêm de uma vitória simbólica do domingo, quando eleitores compareceram em massa às seções para dizer não à convocação da Assembleia Constituinte pelo governo. Pode-se questionar os números, se foram 7,2 milhões de presenças, como dizem os opositores, ou 2 milhões, como preferem setores que apoiam o regime, mas o que ficou, para o mundo, foi a imagem de um governo cambaleante.
A greve geral desta quinta-feira é o palheiro encharcado de gasolina. E o fósforo já está aceso, se depender do comando da Guarda Nacional Bolivariana, a polícia militar de Maduro, que enviou uma mensagem a suas tropas. Por meio do aplicativo de conversação Telegram, oficiais ordenaram “dar um golpe duro a esses ratos esquálidos” Mais: “O que nos resta é afinar a pontaria”, teria dito um comandante em referência “aos traidores da pátria”. Não há revolução sem sangue, dirão alguns. Mas o risco é altíssimo de uma guerra civil nas barbas do Brasil.
Na Tunísia e no Egito, os presidentes renunciaram antes do conflito. Na Líbia e na Síria, os protestos iniciaram pacíficos e culminaram em duas das piores guerras da atualidade –no caso sírio ainda sem fim. Em Honduras, a ditadura tragou o Brasil e sua embaixada para o centro da crise. O que acontecerá na Venezuela vai depender da forma como Nicolás Maduro e sua polícia irão agir nesta quinta – e até o dia 30 de julho.