O principal sinal de que o governo de Nicolás Maduro está cambaleante é a ameaça lançada por seu chanceler Delcy Rodríguez: o país sairá da Organização dos Estados Americanos (OEA), caso a entidade realize uma nova reunião de ministros de Relações Exteriores para avaliar a situação política venezuelana.
O que o governo Maduro está fazendo com o órgão interamericano é chantagem, uma atitude infantil, a exemplo da adotada pela Coreia do Norte com a comunidade internacional quando, pressionada por crises internas ou pelo aumento de sanções externas, lança um que outro míssil balístico. A cada rugir da dinastia Kim, as potências cedem. A Venezuela faz o mesmo diante da pressão interna.
O país não ganha nada ao sair da OEA. Como membro, conta com apoio de Cuba, Equador e Bolívia, nações que compartilham da solidariedade de governos de esquerda. Isolado, Maduro ficaria mais frágil e vulnerável.
Além da crise política, a Venezuela vive uma dura recessão econômica, com escassez de alimentos e remédios. A inflação deve chegar a 720,5% este ano, a maior do mundo.
A situação se agravou depois da morte de 26 pessoas e de mais de 400 feridas na reação aos protestos. O governo chama os manifestantes de "terroristas", adjetivo que, aliás, tem servido de desculpa para o ditador sírio, Bashar al-Assad, bombardear sua própria população. Mudam os países, os contextos, mas a retórica é semelhante.
A quinta reunião da OEA em um mês foi pedida por 16 dos 34 países-membros. O governo venezuelano poderia até alegar que a petição foi apresentada por governos de centro-direita, que veem na guinada conservadora no continente uma chance de extirpar o chavismo de uma vez por todas da América Latina. Entre os que assinaram a convocação estão Argentina, Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Honduras, México, Paraguai e Peru e Canadá. Mas há no grupo Chile, de Michelle Bachelet, e Uruguai, de Tabaré Vázquez, governos de centro-esquerda.
Maduro seguirá a cartilha chavista, agarrando-se ao poder a qualquer preço, e tem legitimidade para levantar a bandeira de um suposto golpe. Afinal, ganhou a eleição em 2013 ao derrotar Henrique Capriles, ainda que por margem apertada. Convocar eleições presidenciais agora, como sugeriu o presidente Michel Temer em entrevista à agência de notícias EFE, é não apenas uma solução simplista _ que ele não defenderia aqui, por exemplo _ mas, sobretudo, inconstitucional.
Maduro não tem a mesma capacidade de aglutinar as massas que seu padrinho político, Chávez - tampouco o mesmo carisma entre os venezuelanos. No domingo, entretanto, voltou a convidar a oposição para retomar o diálogo, paralisado no ano passado. Os adversários continuam a defender que aproveitarão o impulso das ruas para exigir novo pleito.
Em 2015, a oposição obteve maioria em eleições legislativas pela primeira vez desde que, burramente, se absteve. Se acusa o governo de não negociar, cabe agora aos adversários de Maduro aceitar o diálogo, por mais difícil que seja. É a única saída pacífica para a crise. A oposição já errou no passado, ao se afastar da mesa de negociação, abrindo caminho para amplos poderes ao chavismo. Foi quando tudo começou. Não pode perder a nova oportunidade. Ou a Venezuela terá chegado ao ponto de não-retorno.