
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
De fevereiro a maio deste ano, o Brasil recebeu 680 cidadãos repatriados dos Estados Unidos, sendo que dois deles tiveram como destino final o Rio Grande do Sul — um para Santa Cruz do Sul e outro para Porto Alegre. Os dados foram divulgados na segunda-feira (12) pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), que traçou o perfil desses brasileiros.
As sete operações de repatriação realizadas neste período mostraram que a maioria dos repatriados são homens (526), contra 142 mulheres e 12 casos sem informação de gênero. A faixa etária predominante é de 18 a 29 anos (34,33%), seguida por 30 a 39 anos (29,84%) e 40 a 49 anos (23,69%).
O levantamento revela que 83,72% chegaram sozinhos ao Brasil, enquanto 16,28% estavam acompanhados de familiares. Após o desembarque, 56,99% foram acolhidos por parentes, 33,03% seguiram para suas próprias residências e 3,23% ficaram em casas de amigos.
Minas Gerais foi o principal destino, recebendo 310 pessoas (47,55% do total). Em seguida aparecem Rondônia (74), São Paulo (57), Goiás (40) e Pará (37). Outros estados como Espírito Santo, Rio de Janeiro, Ceará, Paraná, Mato Grosso, Distrito Federal e Santa Catarina também receberam repatriados, além dos dois casos no Rio Grande do Sul.
Os dois gaúchos são de uma mulher que tem entre 30 e 39 anos e um homem entre 40 e 49 anos.
Sobre os planos futuros, 70,63% pretendem trabalhar no Brasil, 19,64% querem conciliar trabalho e estudo, e 6,60% planejam dedicar-se exclusivamente aos estudos. Quanto à escolaridade, predomina o ensino médio completo ou incompleto.
— São pessoas que tem uma vulnerabilidade socioeconômica. Os imigrantes que optam por essa vida irregular, são pessoas que buscam uma melhoria de vida com base numa idealização de que nos Estados Unidos a vida seria fácil e que ganhariam mais dinheiro — comenta Coordenadora-Geral de Migrantes do MDHC, Ana Maria Raitparvar.
Vida nos EUA
O estudo, realizado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), também analisou a vida desses brasileiros nos EUA. A maioria morou por períodos curtos em estados como Texas, Massachusetts, Flórida e Nova Jersey — regiões com forte presença de comunidades migrantes brasileiras.
Quanto às condições de trabalho, 75,70% dos repatriados trabalhavam mais de oito horas diárias, muitas vezes em condições precárias. Outros 11,25% não trabalhavam nem estudavam, 5,12% tinham jornadas inferiores a oito horas, 5,37% conciliavam estudo e trabalho, e 2,56% dedicavam-se apenas aos estudos.
Sobre a situação familiar, 38,80% não deixaram parentes nos EUA, enquanto 23,16% deixaram pelo menos um familiar e 12,58% tiveram que deixar cinco ou mais parentes no país norte-americano.
Segundo Ana Maria, os repatriados vêm algemados, já que essa é a lei dos Estados Unidos, e só tiram as algemas quando chegam no Brasil. Aqui, recebem ajuda psicológica, assistência de saúde e todo o acompanhamento necessário prestado pelo governo federal.
— Entendemos a migração como um direito no Brasil, fazemos o acolhimento dos migrantes de outros países que vêm para cá, dos refugiados, então não tem porque não fazermos dos nossos próprios. Esperamos que eles fiquem no país, incentivamos as empresas que contratem esses repatriados e deportados que estão tentando retomar a vida deles.
O próximo voo de repatriados está agendado para o dia 24 de maio.