A comunidade de ítalo-brasileiros no Rio Grande do Sul deve ficar atenta aos prazos para votar nas eleições parlamentares da Itália. O pleito, que irá renovar 630 cadeiras da Câmara dos Deputados e 315 do Senado, ocorre em 4 de março. Mas quem mora no Exterior, como é o caso de italianos que migraram para o Estado ou os brasileiros com dupla cidadania, precisa enviar o voto pelo correio para a sede do consulado, em Porto Alegre, até 1º de março.
A Itália é o único país que reserva vagas em seu parlamento para representantes fora de seu território – seis senadores e 12 deputados em todo o mundo. Por meio do voto, os italianos residentes na América do Sul podem eleger dois senadores e quatro deputados (veja no quadro abaixo os atuais representantes da região) – ou seja, um terço das vagas disponíveis no Exterior.
O subcontinente é a região do planeta com a maior comunidade italiana no mundo, e o Brasil é o terceiro país com mais italianos fora da Itália – atrás de Argentina e Alemanha. No Rio Grande do Sul, segundo Estado com maior número de ítalo-brasileiros, são cerca de 70 mil eleitores, que receberão a cédula para votar a partir de 14 de fevereiro. Como o voto precisa ser enviado a Roma para escrutínio, o prazo exíguo e possíveis atrasos dos Correios preocupam autoridades diplomáticas italianas.
– Se chegar depois do dia 22 ao consulado já corre risco – alerta o cônsul-geral da Itália no Rio Grande do Sul, Nicola Occhipinti.
A partir dos dias 8 e 9 de fevereiro, o consulado enviará a cada eleitor, por correio, um envelope contendo um documento explicativo e material necessário para a devolução (veja detalhes abaixo). Nicola faz um apelo para que os eleitores votem assim que receberem a cédula e depositem o envelope no correio o mais rapidamente possível.
– É uma ocasião especial para os gaúchos mostrarem seu apego à Itália e a seus antepassados – diz.
Estão aptos a votar cidadãos italianos ou brasileiros com dupla cidadania inscritos no Anagrafe dos Italianos Residentes do Exterior (Aire). A última eleição foi em 2013, quando foram renovadas todas as vagas da América do Sul. Dos dois senadores da região, um é brasileiro nascido em São Paulo, Fausto Longo, do Partido Socialista Italiano. Entre os quatro representantes da Câmara dos Deputados do subcontinente, há uma brasileira nascida no país, Renata Bueno, da União Sul-Americana dos Emigrantes Italianos (Usei), e um italiano radicado em São Paulo, Fábio Porta, do Partido Democrático. Os demais representantes são ítalo-argentinos.
Na última semana, vários candidatos estiveram no Estado visitando comunidades de italianos e descendentes à caça de votos. Entre eles, o ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Wálter Maierovich Fanganiello, que busca o primeiro mandato como deputado pela coligação Liberi Uguali, o funcionário da embaixada italiana Pasquale Matafora, que disputa uma vaga pelo Partido Democrático, e Renata, que tenta a reeleição. A embaixada italiana em Brasília não tinha até sexta-feira a lista de todos os brasileiros que disputam o pleito, mas o cônsul Nicola imagina que serão pelo menos 20 candidatos. O mandato é de cinco anos.
Em 2016, a participação em um referendo sobre a reforma da Constituição italiana teve participação de 37% dos eleitores aptos a votar no Estado, o mais alto percentual entre os sete consulados no país. Entre as mudanças propostas estava um item que igualava os poderes das duas Casas do parlamento. O “não” às alterações venceu.
Os eleitos no Exterior têm os mesmos deveres dos parlamentares escolhidos na Itália: votam no orçamento do país, por exemplo. Mas também representam suas comunidades. Entre propostas dos candidatos estão minimizar a fila de pretendentes à cidadania e aumentar o intercâmbio entre micro e pequenas empresas italianas e brasileiras.
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Quem pode votar
Todos os eleitores inscritos no cadastro dos italianos residentes no Exterior. Ou seja, italianos que nasceram na Itália e moram no Brasil ou cidadãos brasileiros com cidadania italiana. Eleitores com mais de 25 anos votam para senador e deputado. Eleitores com entre 18 e 24 anos elegem apenas deputados.
Como se vota
Por correspondência. A partir do dia 14 de fevereiro, o eleitor receberá em casa, pelo correio, a cédula eleitoral e um envelope pré-pago que, após o voto, deverá ser enviado à sede do Consulado-geral da Itália em Porto Alegre (Avenida José de Alencar, 313, bairro Menino Deus).
A cédula deve ser preenchida com caneta esferográfica preta ou azul. É possível votar na lista de um partido ou nos candidatos. Nesse segundo caso, o eleitor deve escrever na cédula o sobrenome do candidato na linha ao lado da marcação na lista. Cada eleitor poderá indicar tantas preferências quantas forem as linhas disponíveis ao lado de cada legenda.
Prazos
Atenção! Os prazos são exíguos. Embora a eleição na Itália ocorra em 4 de março, os votos de quem mora no Exterior devem chegar a Roma até esta data. O envelope com o voto dos eleitores do Rio Grande do Sul deve chegar ao consulado até as 16h de 1º de março. Caso contrário, será invalidado. Devido à demora do correio, o consulado aconselha que os eleitores enviem a correspondência até 20 de fevereiro. O envelope com o voto pode ser entregue em mãos no próprio consulado.
Quem será eleito
Os eleitores italianos que vivem no Brasil ou brasileiros com cidadania italiana votam nos candidatos que concorrem às vagas reservadas à região da América do Sul (confira no link, em italiano, a lista dos candidatos). Serão eleitos quatro deputados e dois senadores nessa área do planeta. Até sexta-feira, a embaixada da Itália no Brasil não tinha a lista completa com os nomes de todos os candidatos, mas acredita que serão cerca de 20 postulantes às vagas na região da América do Sul.
Onde estão os italianos
A Argentina é o país com o maior número de italianos ou cidadãos com cidadania italiana fora da Itália (800 mil). A Alemanha está em segundo lugar (550 mil), mas, nos próximos anos, deve ser ultrapassada pelo Brasil.
Brasil – São cerca de 530 mil italianos ou brasileiros com dupla cidadania no país. Destes, 370 mil estão aptos a votar. As maiores comunidades estão em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
RS – 85 mil italianos ou brasileiros com dupla cidadania vivem no Estado. Destes, 70 mil são eleitores. Cerca de 40% estão em Porto Alegre. Os demais estão espalhados pela serra gaúcha e Região Central.
Há comunidades também em Rio Grande e Pelotas, entre outros municípios menores.
Os atuais parlamentares da América do Sul
Senadores
Fausto Longo (Partido Socialista Italiano) — Arquiteto e urbanista brasileiro, nascido em Amparo (SP), foi eleito em 2013 com 30 mil votos. Foi o primeiro brasileiro residente no Brasil a ocupar o posto. Foi vereador em Piracicaba (SP).
Cláudio Zin (Movimiento Asociativo Italianos en el Exterior — Maie) — Médico e jornalista italiano, chegou aos cinco anos à Argentina. Tornou-se famoso na TV por comentários na área de ciência.
Deputados
Fábio Porta (Partido Democrático) — Sociólogo, nascido em Caltagirone, Itália, mora em São Paulo. Está em segundo mandato. Em 2008 foi eleito com 17 mil votos. Em 2013, reelegeu-se com 30.298 votos.
Ricardo Merlo (Movimiento Asociativo Italianos en el Exterior — Maie) — Cientista político nascido em Buenos Aires, Argentina, é membro do parlamento italiano desde 2006. É fundador do Maie.
Renata Bueno (União Sul-Americana dos Emigrantes Italianos – Usei) — Filha do deputado federal Rubens Bueno (PPS), é brasileira nascida em Brasília, mas com carreira política em Curitiba, onde foi vereadora eleita em 2008. Escolida para o parlamento italiano em 2013 com 18.077 votos.
Mario Borghese (Movimiento Asociativo Italianos en el Exterior — Maie) — Natural de Córdoba, Argentina, é médico. Foi eleito em 2013, depois de uma tentativa frustrada de chegar ao parlamento em 2008.