Em sua etapa mais delicada da viagem à Ásia, Donald Trump tem, na China, a oportunidade de revelar o que aprendeu de geopolítica, desde que venceu a eleição nos Estados Unidos, há exato um ano. O gigante asiático, principal aliado da Coreia do Norte, é o único país na região com capacidade de frear o governo de Kim Jong-un no que o ditador pensa ser seu parque privado de diversões nucleares.
Hoje, o governo de Xi Jinping tem mais motivos para manter a ditadura vizinha sob controle. Em seu voo econômico ascendente para conquistar o mundo, tudo o que o homem mais poderoso do planeta, segundo a The Economist, não quer é uma guerra nas suas barbas. Manter Kim sob sua tutela, hoje mais por interesses estratégicos do que por afinidade ideológica, é demonstração de influência no tabuleiro mundial.
As relações nunca foram boas entre Trump e Xi. E nem o jantar em Mar-a-Lago, em abril, amenizou o desconforto. Durante a campanha, o republicano elegera a China seu malvado favorito – prometia, por exemplo, impor tarifas pesadas em importações procedentes do país asiático. O comércio entre os dois países movimenta quase meio trilhão de dólares por ano. Mas a China vende três vezes mais para os EUA do que compra em produtos americanos – uma competição desleal, na visão americana.
Eleito Trump, seguiram as rusgas. O primeiro telefonema foi para a presidente taiwanesa, Tsai Ing-Wen. A China considera Taiwan uma província rebelde – e a "inocente" ligação o obrigou a dar um segundo telefonema, desta vez a Xi, comprometendo-se a respeitar a política de "Uma só China". Aliás, os chineses esperam que o americano repita essa expressão nos discursos desta quarta e quinta-feira.
O périplo de Trump pela região mais explosiva do planeta (ao lado do Oriente Médio) tem revelado um política de "morde e assopra" da Casa Branca. Em sua passagem por Japão e Coreia do Sul, ele amenizou as declarações sobre o governo Coreia do Norte – disse que o regime "é uma ameaça global" e que todas as nações responsáveis devem unir forças para isolá-lo. A mudança de tom é sutil. Mas é importante. Antes, Trump diria que Kim é uma ameaça aos EUA. Ao colocar o mundo no mesmo barco, demonstra uma visão multilateral sobre o problema.
Não se surpreenda se assistirmos a uma versão paz e amor de Trump em Pequim. Ao baixar o tom contra os chineses, pode angariar o aliado fundamental – ao menos em ternos de Coreia do Norte. Terá cumprido com estrelinhas o tema de casa sobre uma das primeiras lições informais da diplomacia: às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente.