Quando se lança o olhar sobre a China, tudo é grandiloquente: 1,36 bilhão de habitantes, segunda maior economia do mundo e um Congresso do Partido Comunista Chinês com 2.287 delegados de uma legenda – que também é a maior do planeta –, com 89 milhões de membros. Mais do que imagens milimetricamente planejadas para impressionar, pelos números ou pela postura cartesiana de seus participantes, o encontro que se encerra hoje dá uma boa ideia de onde a China estará nos próximos cinco anos. Em se tratando de influência e poder, significa refletir onde o mundo irá estar nos próximos cinco anos.
Na dobradinha 2015/2016, potências bateram o martelo sobre que posições estratégicas irão adotar na arena global. Os EUA escolheram um lado ao elegerem Donald Trump e sua “America first”; O Reino Unido disse a que veio com o Brexit; França e Alemanha fincam pé como representantes dos que ainda sonham com uma união do continente após a saída britânica da União Europeia (UE).
Rússia e China se lançam como jogadores ousados no vazio deixado pelos americanos e na ausência de lideranças em regiões como Ásia e América Latina – por aqui, nem Brasil nem Argentina ocupam posição.
Na política, não há vácuo de poder. A Rússia escolheu jogar o grande jogo do Oriente Médio na Síria e criar um colchão de proteção do avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o Leste, fazendo de espuma antigas repúblicas soviéticas. A China optou não pela diplomacia do canhão, do camarada Vladimir Putin, mas pela política do dinheiro. Enquanto Trump cerra os EUA em si, abandona protocolos internacionais e esquece o multilateralismo, o governo chinês cria uma rede de influência global que se capilariza em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial e a Interpol (polícia internacional), injetando dinheiro e mentes. Sem falar das empresas chinesas espalhadas por todos os quadrantes, muito mais eficiantes do que qualquer diplomacia.
Não esperem de Rússia e China a exportação da democracia e do respeito aos direitos humanos nos moldes ocidentais. O Kremlin não negocia com a oposição interna, assim como o governo chinês não irá aliviar a carga sobre o Tibete. A Rússia não tem pudores em apoiar o governo de Bashar al-Assad na Síria, e a China passa a mão sobre Kim Jong-un, na Coreia do Norte, e Robert Mugabe, no Zimbábue. Russos e chineses não querem exportar valores que não são os seus – ou pelo menos não da forma como idealizamos do lado de cá do planeta. Putin quer projetar poder. Xi Jinping, o homem mais poderoso do mundo segundo a The Economist, já projetou.