Na prática, o debate em Saint Louis começou antes mesmo de Hillary Clinton e Donald Trump subirem ao palco. Uma hora antes do enfrentamento, o candidato republicano buscou desestabilizar a adversária ao chamar a imprensa para uma entrevista na qual apareceu ao lado de quatro mulheres que lhes prestavam apoio. Uma delas era Juanita Broaddrick, que acusou Bill Clinton, marido de Hillary e ex-presidente, de tê-la estuprado. A outra mulher que apareceu nas imagens ganhou bem mais notoriedade no passado. Era Paula Jones, que, em 1994, processou Bill por assédio sexual.
A provocação da cena daria o tom da noite de domingo e se transportaria para o momento em que os dois candidatos subiram ao palco. Não houve aperto de mãos. Trump estava inquieto, interrompia Hillary com frequência e várias vezes ficou caminhando atrás da adversária enquanto ela falava. Mais calma e segura, a democrata permanecia sentada a maior parte das vezes em que Trump respondia.
O segundo debate da eleição foi muito mais aguerrido do que o primeiro, facilitado pelo formato de arena do palco, com os adversários em pé, respondendo a perguntas dirigidas pelos eleitores/espectadores e por meio de redes sociais. O site Politico chegou a chamar o encontro de "o mais feio da história americana". O The New York Times disse que era um debate "grosseiro".
Trump começou apostando na estratégia de ataques preventivos: partiu pra cima para não ser atacado. Sabia que suas frases sexistas e machistas, que vieram à tona na semana passada em um vídeo, surgiriam nas perguntas. Ensaiou negar o que disse, mas não foi convincente. Mais uma vez, como no primeiro debate, ficou claro que, pressionado, Trump fica nervoso, perde-se nos argumentos.
O formato favoreceu Trump mais do que no primeiro duelo. Embora nervoso, ele conseguiu se mostrar enfático quando tomava a palavra. Como no primeiro encontro, ele voltou a chamar Hillary de mentirosa:
- – Ela tem um grande ódio em seu coração – insistiu.
Hillary respondeu:
- – Tudo o que ele acaba de dizer é falso.
Em vários momentos, Trump parecia arrogante ao segurar o microfone. Hillary manteve o tom, se saiu tão bem quanto no primeiro enfrentamento, especialmente nos 15 minutos finais, quando o assunto era política externa. Sua experiência como secretária de Estado está a anos-luz de Trump e isso fica explícito nas falas.
A surpresa ficou por conta de uma pergunta criativa, feita pelo eleitor Lance Ulan, que pediu que os adversários indicassem alguma coisa positiva que respeitassem um no outro. A plateia riu. Os candidatos riram. Hillary começou respondendo, elogiando os filhos de Trump - uma forma de não elogiar o adversário diretamente. Trump falou sobre a bravura de Hillary:
- – Ela não desiste, não se rende – ele elogiou.
Em clima mais amigável do que no início do programa, cujo tenso foi quebrado pela pergunta do espectador, o cumprimento veio ao final, com sorrisos.
Fiquei com a impressão de que a Hillary falou mais tempo do que Trump, mas os cálculos da CNN desmentem: ele falou 40min10seg; ela, 39min5seg.
Lembrando que o segundo debate não é tão decisivo quanto o primeiro e o último – tampouco costuma ficar no imaginário do eleitor. É praticamente impossível comparar os duelos de 2016 com os da eleição de 2012, entre Barack Obama e Mitt Romney. O nível era muito mais elevado. Naquela eleição, um Obama apático foi muito mal no primeiro, recuperou-se no segundo e arrasou no terceiro. Trump segue a lógica de ter ido mal no primeiro e melhorado no segundo.
O próximo debate e mais decisivo de todos será no dia 19 de outubro, na Universidade de Nevada, em Las Vegas.