O padre sergipano Elmiran Ferreira Santos é a principal testemunha do milagre que levou o Vaticano a confirmar a santidade da Madre Teresa de Calcutá. Em 2008, o pároco da Igreja Santo Amaro das Brotas, em Santos, recebeu na comunidade uma mulher desesperada por conta do marido, paciente em estado terminal, com graves problemas no cérebro. No meio da paróquia, ele entregou a ela uma imagem de Madre Teresa. Três dias depois, o homem teve alta da UTI. O milagre é o segundo de Madre Teresa e foi confirmado pelo Vaticano nesta sexta-feira. Padre Elmiran, que participou como testemunha do processo de investigação, contou a ZH, por telefone, como foi o milagre:
Como foi participar dessa investigação do Vaticano?
Havia várias pessoas, familiares, pessoas que conheciam e acompanharam o paciente. A comissão do Vaticano que veio a Santos em junho era integrada por dois padres e uma espécie de escrivão. Eles ficaram na casa do bispo de Santos, durante uma semana. São italianos, mas falavam português. Prepararam todo um ambiente, um deles ia traduzindo, enquanto outro ia perguntando. É uma série de perguntas, um questionário muito longo, de forma individual. Comigo foi apenas uma entrevista. Mas envolveu várias pessoas, porque queriam ver se as informações batiam. Pessoas que conheciam a família, amigos, médicos... para se analisar todas essas questões científicas.
Desde quando o senhor conhecia a família?
Eu conhecia o casal, eles vinham à igreja, a gente acaba ficando sabendo que alguém está doente, está passando por esse momento. A gente vai acompanhando. Ele já era transplantado de rim. Nesse período, começou a aparecer alguns desmaios. Foi ao médico, fez uma série de exames e constatou abscessos na cabeça. Foi todo um tratamento. E essa doença, quando começa a mexer, parece que vai se descobrindo as causas. Ele ficou internado, depois a coisa foi se agravando, até ele ir para a UTI. A mulher, hoje esposa, me procurava, estávamos rezando. Foi toda uma rede de oração.
Como foi o momento do milagre?
Nesse dia em que ele foi para a UTI, eu tinha ido celebrar uma missa para as Irmãs da Madre Teresa (Missionárias da Caridade), em Santos. Saindo de lá, elas me entregaram umas relíquias, santinhos, medalhinhas e também uma biografia da Madre Teresa. Quando chego aqui (na paróquia), por volta das 18h, eu estava no meio da igreja. Ela entrou chorando, e eu logo percebi que estava com dificuldades. Aqui mesmo, no banco da igreja, sentei com ela e fui escutando, consolando, rezando. Por fim, eu disse: "Olha, vamos continuar rezando, pedindo a graça de Deus, e vamos pedir a interseção da Madre Teresa de Calcutá". Tirei do bolso e dei a ela uma dessas relíquias. Rezamos a oração, e ela voltou para o hospital. Fez a oração junto com ele e colocou essa relíquia ali do lado, no travesseiro. Entre dois e três dias, ele já teve alta. Foi uma surpresa. Estava na UTI, e já teve alta! Deus seja louvado!
Como ele está hoje?
Ele teve alta, fez todos os procedimentos, acompanhando, voltando ao médico. E hoje casou, tem dois filhos, continua trabalhando. Eu até imaginava: "Meu Deus, será que vai conseguir ter filhos em um casamento, diante do quadro?" E olha, foi mais um sinal de confirmação de que estava bem de saúde.
Em que momento o senhor percebeu que era um milagre?
Na oração, pede-se que alguém que alcançou alguma graça comunique às irmãs. Passou um tempinho, eu estava com as irmãs e relatei o fato: "Olha, tal dia, vim celebrar aqui, a senhora me deu o santinho, dei para uma pessoa que estava com um familiar doente". Elas mandaram a informação para a congregação geral, até que chegou a Roma. E seguimos sempre acompanhando a melhora dele. Pedimos sempre pela intercessão de Madre Teresa. Quem faz o milagre é Deus, mas ele se serve das pequenas coisas. E, conhecendo a história da Madre Teresa, ela era uma mulher que sempre se fez pequena diante da graça de Deus. A questão da humildade, do serviço aos pobres, sobretudo.
O senhor já tinha devoção por Madre Teresa?
Já conhecia, já tinha o santinho. E ela (a mulher do paciente) já tinha ouvido falar de Madre Teresa. Mas eu, até então, não tinha essa devoção, porque não tinha tanta necessidade, essa oportunidade de aprofundar, de pedir mais. Mas nada é por acaso. Deus vai nos proporcionando, marcando sua presença também nos momentos difíceis de nossas vidas. O que representa para a Igreja do Brasil esse reconhecimento? É um momento muito importante essa confirmação, especialmente nesse ano da misericórdia. É um sinal da misericórdia de Deus, que está vivo, presente, na nossa vida. Isso vem confirmar aquilo que Jesus disse: "Seja santo como pai do céu é santo". A palavra de Deus continua sendo válida para nós. É Jesus Cristo ontem, hoje e sempre.