Uma pessoa só é verdadeiramente livre se for responsável pelos seus atos – essa é uma das definições mais precisas sobre o que significa a liberdade. Espinoza (1632-1677) tratou disso, Nietzsche (1844-1900) também e, no século 20, pensadores liberais aproveitaram esse mesmo conceito para desenvolver suas teorias.
O que os liberais defendiam é que, para sermos livres, não podemos transferir nossas responsabilidades. Se transferimos nossas reponsabilidades para o Estado, por exemplo, achando que o Estado deve ser responsável pelo nosso bem-estar, logo teremos um governo decidindo tudo sozinho e atropelando a liberdade de cada um. Isso, vale frisar, segundo os liberais.
Friedrich Hayek (1899-1992) escreveu assim: "Liberdade não é apenas um indivíduo ter a oportunidade e o fardo da escolha; é ele também arcar com as consequências de suas escolhas". Milton Friedman (1912-2006), outro expoente do liberalismo, disse que "não há excesso de liberdade se os livres são responsáveis". Certo, agora vamos levar esse conceito para a vida real.
A rotina de uma criança, essa é uma boa ilustração. Uma criança, como sabemos, não tem plena liberdade para fazer o que quer: ela está (ou deveria estar) sempre sob a tutela dos pais ou de um responsável. Por quê? Porque uma criança, claro, não tem condições de assumir a responsabilidade sobre todos os seus atos.
No caso de uma pessoa verdadeiramente livre, é o contrário: ela é livre justamente porque é responsável pelo que faz. Ela sabe que suas escolhas terão consequências, portanto não precisa de alguém tutelando sua liberdade. Digamos que essa pessoa, por exemplo, em meio a uma pandemia, não queira tomar vacina. Tudo bem, é a escolha dela – ninguém vai levá-la amarrada a um posto de vacinação –, mas ela terá de lidar com as consequências dessa escolha.
Isso é liberdade, isso é ser livre. Mas, nas últimas semanas, um bando de liberais malformados, que parecem nunca ter lido dois parágrafos de coisa nenhuma, resolveram argumentar que o passaporte vacinal, em vigor desde segunda-feira (18) no Rio Grande do Sul, seria um ataque à liberdade de ir vir. Não entenderam até agora que se vacinar é um dever – rejeitar a vacina, vale lembrar, não é um direito. Vacinar-se é uma obrigação cidadã, uma necessidade sanitária que só funciona se houver adesão em massa.
Mas, paciência, não quer cooperar com um esforço coletivo, não coopere. Não vai adiantar dizer o óbvio, que a consistente queda na ocupação de leitos, na taxa de transmissão e no número de mortes deve-se essencialmente a isso, à vacinação que alguns (pouquíssimos, ainda bem) teimam em recusar. Que recusem, isso é ser livre. Mas que lidem com as consequências – afinal, não são mais crianças.