Claro, se desse para escolher, a fiação seria enterrada. Eu adoraria, todos adoraríamos: imagine Porto Alegre que nem Gramado, sem um único risquinho cruzando o céu. Não chega a ser impossível, mas, sejamos realistas, não vai acontecer: já temos rede subterrânea na Orla e no Centro Histórico, só que a expansão para a cidade inteira seria cara demais – e impactaria até na conta de luz.
O que precisamos é de uma boa gestão da infraestrutura atual. Basta olhar para cima, para aquele monte de maçaroca desordenada, para ver que essa gestão é um desastre. O espaço aéreo de Porto Alegre virou a casa da mãe joana: ao alugar os postes da CEEE, dezenas de empresas de telefonia, TV a cabo, internet e fibra ótica foram instalando novas fiações e nunca retiraram as antigas.
Quer dizer: abandonaram montanhas de lixo sobre as nossas cabeças, como se o céu da Capital fosse um depósito de porcarias. A CEEE, dona dos postes, nunca fez nada realmente efetivo para acabar com a bagunça, mas agora o Grupo Equatorial, que comprou a companhia, promete botar ordem no galinheiro.
Como GZH mostrou na semana passada, a Equatorial está notificando mais de 60 empresas: ou elas se manifestam, dizendo de quais fios elas são donas, ou tudo vai ser arrancado – mesmo que isso resulte em corte nos serviços que elas prestam. A faxina começa neste mês em duas avenidas: Francisco Silveira Bitencourt, no bairro Sarandi, e Nestor de Moura Jardim, em Guaíba.
Claro que uma gestão eficiente envolve mais do que se livrar das maçarocas – ainda que as maçarocas, vale lembrar, não representem só um estorvo visual: há relatos de pedestres e ciclistas se acidentando com cabos que despencam lá de cima. Mas, deixando isso de lado, sabe-se que a fiação aérea tem outro problema: ela facilita as quedas de luz.
Porque, quando ocorrem os temporais, a força do vento derruba os galhos de árvores, que caem sobre os fios, que, por sua vez, entram em curto-circuito. Com a fiação enterrada, é verdade, não haveria nada disso. Mas, se aceitarmos a rede subterrânea como única solução possível, estaremos aceitando também a falta de ações a curto prazo.
Temos algum plano para evitar apagões com fiação aérea? Onde está o mapeamento das áreas de maior risco? E um planejamento da arborização para evitar incidentes? Existe um levantamento dos postes comprometidos? Responder a essas questões é fazer uma boa gestão. Não importa tanto se os fios passam por cima ou por baixo.