Três meses após arrematar a CEEE Distribuidora, o grupo Equatorial Energia assume na próxima quinta-feira (8) o controle da estatal gaúcha. A assinatura do contrato ocorrerá às 10h, em solenidade no Palácio Piratini.
Nos bastidores, comenta-se que a Equatorial deve aproveitar a ocasião para apresentar os novos gestores e anunciar um plano de ação para os cem primeiros dias. Mantidas em sigilo, as medidas ventiladas sugerem um programa de melhoria de performance para retirar da empresa o status de pior distribuidora de energia do país, 29ª colocada num ranking de 29 companhias do setor.
Está prevista a criação de um plano de demissão voluntária (PDV) para os empregados e não se descarta a desativação de agências no Interior. Procurada, a empresa não quis se manifestar.
Executivos da Equatorial já atuam no Estado desde o ano passado. Antes mesmo da privatização, eles circulavam pelos corredores da CEEE conhecendo a companhia. Essa presença foi ampliada após o leilão de 31 de março, com ocupação de salas na sede da estatal, na Avenida Joaquim Porto Villanova, bairro Jardim Carvalho, no Porto Alegre.
Desde então, são frequentes as reuniões, sobretudo com as áreas técnicas e com o departamento de recursos humanos. Houve também viagens pelo Interior, com idas a Bagé, Pelotas e Camaquã, entre outras cidades. Para evitar o vazamento de informações, alguns funcionários da CEEE que estão mantendo contato com executivos da Equatorial tiveram de assinar termos de confidencialidade.
Célebre no mercado pela aquisição de empresas deficitárias e endividadas, a Equatorial controla seis distribuidoras estaduais, duas delas privatizadas pelo valor simbólico de R$ 1 (Pará e Maranhão) e outras três por R$ 50 mil (Piauí, Alagoas e Amapá). No Rio Grande do Sul, o lance foi de R$ 100 mil, acrescido da transferência de um passivo de R$ 4,2 bilhões da CEEE.
Adepta dos choques de gestão nas novas subsidiárias, a Equatorial terá como um dos objetivos primordiais a redução de gastos com pessoal, terceirizadas e material. Esses itens compõem um indicador chamado PMSO, usado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nos reajustes de tarifa.
Quanto maior o PMSO, maior a ineficiência da empresa e portanto menor o índice de reajuste autorizado pela Aneel. Atualmente, o PMSO da CEEE é de R$ 392 anuais por consumidor, o dobro da média nas outras distribuidoras do grupo (R$ 190 no Maranhão, R$ 191 em Alagoas no Pará, e R$ 185 no Piauí). Para alcançar o mesmo patamar, a redução de custos deve começar justamente pelo PDV. O expediente foi empregado nas duas últimas distribuidoras compradas pela Equatorial antes da CEEE, em Alagoas e no Piauí.
Na antiga Cepisa, hoje Equatorial Piauí, houve adesão de cerca de 600 dos 2,1 mil funcionários. No braço gaúcho, um dos objetivos, além do enxugamento do quadro, será aplainar a média salarial. Com 1.835 colaboradores, a CEEE tem 43% do pessoal com vencimento médio de R$ 7,3 mil e outros 24% recebendo em média R$ 12,2 mil. Cerca de 200 funcionários ganham mais do que o presidente da empresa, Marco Soligo, cujo contracheque é de R$ 17 mil mensais.
Nos corredores da empresa, o clima é tenso. Embora haja um embargo contratual que proíbe demissões nos primeiros seis meses, alguns já estão migrando para a iniciativa privada e muitos pretendem aderir ao PDV com receio de serem demitidos sem benefícios extras no começo de 2022. Há também um descontentamento com a perda do vale-alimentação e do reembolso parcial do plano de saúde, determinado em janeiro pela atual gestão.
Na terça-feira (29), a Associação de Engenheiros da CEEE ingressou com ação judicial pedindo a suspensão do repasse dos ativos à Equatorial enquanto não houver informações sobre o pagamento de uma dívida previdenciária estimada pela entidade em R$ 2,3 bilhões. Antes de analisar o pedido de liminar, o juiz Fernando Diniz, da 4ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, pediu manifestação do governo do Estado. Procurado, o presidente da CEEE recusou pedido de entrevista.
Para os consumidores, a medida imediata mais impactante deve ser a troca do nome, com a o fim da marca CEEE nas contas de luz.
Nos quatro Estados em que já atua, o nome original das distribuidoras foi substituído pela marca da holding (Equatorial Pará, Equatorial Maranhão, Equatorial Alagoas e Equatorial Piauí). Assim, é provável que os boletos em breve sejam emitidos em nome de Equatorial Rio Grande do Sul.
Enquanto não assume plenamente as operações da estatal, os executivos da Equatorial trabalham também em outras frentes. A empresa busca espaços para uma sede administrativa e um centro de distribuição. No início, as atividades devem continuar sendo desempenhadas no prédio da Avenida Joaquim Porto Villanova. O imóvel, porém, não entrou na negociação e segue sob propriedade do Estado.
A Equatorial busca um prédio em região central para abrigar a unidade administrativa e um espaço de ao menos 20 mil metros quadrados para servir de oficina e depósito. Uma das opções é no distrito industrial da Restinga, onde a prefeitura está montando um parque empresarial.
Conheça a Equatorial Energia
- Fundada em 1999 para participar dos primeiros leilões de privatização do setor elétrico, a Equatorial atende hoje 22% do território nacional, com distribuidoras de energia em seis Estados: Rio Grande do Sul, Alagoas, Maranhão, Pará, Piauí e Amapá
- Somente no primeiro trimestre de 2021, foram investidos R$ 631 milhões, sendo R$ 404 milhões em distribuição de energia
- No mesmo período, a venda de energia cresceu 4% e o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançou R$ 1,1 bilhão
- O grupo mantém uma dívida bruta de R$ 18 bilhões e dispõe de um caixa de R$ 6,9 bilhões, valor superior as amortizações previstas para os próximos dois anos
- A holding atua ainda na geração e transmissão de energia, em serviços e telecomunicações