Sebastião Melo pode, sim, entrar para a história como o prefeito que recuperou o degradado centro de Porto Alegre – mas, para isso, um projeto precisa ser aprovado na Câmara de Vereadores.
A oposição, ao que tudo indica, votará contra, o que me parece ruim para os próprios opositores, porque, daqui a alguns anos, o tal projeto será reconhecido como fundamental para o salto que a cidade deve experimentar. Paciência: é muito provável que a base aliada consiga, sem maiores dificuldades, aprovar o plano diretor específico para o Centro Histórico.
Pela primeira vez em décadas, trata-se de algo concreto para resolver um problema quase inacreditável: na prática, é proibido construir qualquer coisa no centro da Capital. Isso ocorre porque o estoque de potencial construtivo, ou seja, a capacidade de receber novas edificações, está esgotada naquela área, conforme o plano diretor atual. O resultado, claro, é um bairro que parou de se desenvolver.
O Centro tem hoje dezenas e dezenas de edifícios vazios (ou apenas com o térreo alugado por pequenos comerciantes) por conta de dois motivos: primeiro, porque os moradores debandaram à medida que a zona foi se tornando inóspita – os terminais de ônibus, a poluição, o comércio informal e a criminalidade também foram empurrando para fora profissionais liberais como médicos e advogados.
Segundo, porque ninguém tem interesse em comprar os terrenos onde ficam esses prédios vazios. Pelas regras atuais, se o proprietário quiser demolir o edifício, é inviável erguer no lugar um empreendimento de tamanho igual – não há mais estoque de potencial construtivo, como já foi dito. O famoso Esqueletão, por exemplo, símbolo do abandono do Centro Histórico: quem investiria naquele terreno para fazer um prédio pequeninho?
A longo prazo, conforme o perfil de ocupação do bairro for mudando, a tendência são as mazelas da região perderem força.
Se o projeto da prefeitura for aprovado na Câmara, o Centro voltará a ser atrativo para novos empreendimentos, especialmente os residenciais: hoje, com poucos moradores, o Centro se esvazia após o horário comercial, quando a sensação de segurança despenca. E só os moradores são capazes de levar vitalidade para as ruas, ocupar o espaço público e fazer a economia do bairro girar – inclusive atraindo outros investimentos.
A longo prazo, conforme o perfil de ocupação do bairro for mudando, a tendência são as mazelas da região recuarem: comércio informal, violência, degradação da área, tudo tende a perder força. Em resumo, para revitalizar o Centro, não adianta só arrumar canteiro e calçada. Felizmente, a prefeitura sabe disso – espera-se que a Câmara também.