Um Centro Histórico com menos carros, pouquíssimos ônibus, calçadas mais largas, ciclovias e, principalmente, áreas de convívio. São essas as diretrizes de um plano de mobilidade específico para o bairro mais importante (e mais maltratado) de Porto Alegre.
Uma empresa especializada no assunto, contratada ainda no governo Marchezan, trabalha desde dezembro no projeto que promete mudar a relação da cidade com a região central. Na verdade, a ideia é resgatar o que o Centro um dia já foi.
A Salgado Filho, por exemplo, era uma espécie de bulevar onde as pessoas passeavam sem pressa entre cafés e cinemas, olhando as vitrines e sorvendo a existência. Mas, no fim dos anos 1970, levaram para lá aquela montoeira de terminais de ônibus, e aí esses ônibus passaram a encobrir as fachadas do comércio e jogar poluição na cara de todo mundo – o que afugentou os frequentadores e transformou as calçadas em espaços quase exclusivos para filas de passageiros. Um horror.
– Temos que diminuir as linhas que chegam ao Centro. Estamos propondo isso para a EPTC, que concorda com a gente. A cidade se desenvolveu, existem vários outros pequenos centros, portanto a necessidade de os terminais serem ali se tornou muito menor – diz o engenheiro civil Clovis Magalhães, especialista em mobilidade contratado pela Matricial, empresa que receberá R$ 1 milhão do município pela estruturação do plano.
Em relação ao automóvel, segundo Clovis, o problema maior é que o Centro Histórico virou essencialmente um circuito de passagem: pouca gente entra de carro no bairro para realmente ficar no bairro. O destino é quase sempre outro local, mas a cultura, o hábito, o costume (e, de vez em quando, a praticidade, é verdade) fazem o porto-alegrense atravessar o Centro para chegar a qualquer canto da cidade.
É impossível transformar o Centro em um lugar convidativo para as pessoas com a lógica atual de circulação de veículos.
CLOVIS MAGALHÃES
Engenheiro civil
– Existe suporte no sistema viário para priorizar outros circuitos. É impossível transformar o bairro em um lugar mais humanizado, convidativo para as pessoas, com a lógica atual de circulação de veículos. Para ir ao Praia de Belas, por exemplo, o motorista vem pela Alberto Bins, pega a Doutor Flores, a Salgado Filho e sai na Borges. Não precisa, tem várias outras alternativas – analisa o engenheiro.
Previsto para ser entregue em fevereiro de 2022, o plano de mobilidade deve prever soluções baratas – como as mencionadas acima, que envolvem muito mais gestão e planejamento – e outras que custam caro, como alargamento de calçadas, troca de pavimento e paisagismo de ruas. A ideia é que a prefeitura possa ir executando aos poucos.