A duas semanas de entregar o cronograma das obras à prefeitura, o grupo de investidores que assumirá o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (o Harmonia) tem um desafio considerável: construir o maior espaço temático a céu aberto do Estado – todo dedicado à cultura gaúcha – sem escorregar no mau gosto.
Pode ficar lindo, claro, e tomara que fique, mas a sombra da cafonice é inevitável quando se fala em dinossauros gigantes, reprodução de arquitetura antiga, encenações de lendas folclóricas, fazendinha com animais de verdade, passeios de helicóptero e até mascotes que envolvem bugio e quero-quero.
O consórcio GAM 3 Parks, vencedor da licitação, promete surpreender: contratou duas consultorias especializadas em parques culturais e, na montagem do projeto, contará com um grupo de arquitetos especializados em construções históricas. São eles que ajudarão a criar as "vilas temáticas", uma espécie de marca registrada prevista para o Harmonia.
Uma dessas vilas vai apresentar a arquitetura, os costumes e a gastronomia alemã; outra será inteiramente dedicada à colonização italiana; uma terceira deve homenagear as influências africanas e indígenas. Já a alameda principal do parque – onde haverá apresentações de teatro, música e dança – vai remeter às raízes açorianas da capital gaúcha.
– Nosso objetivo é que todos esses elementos façam sentido em um conjunto. Vamos ter muitas atrações, todas capazes de colocar Porto Alegre no mapa do turismo nacional, mas nada que lembre uma miscelânea desordenada – garante o presidente do GAM 3 Parks, Vinícius Garcia, estimando em R$ 50 milhões o investimento inicial.
O diferencial maior, segundo ele, vai ser o "apelo experencial" do parque. É aí que entram brinquedos espetaculares, como, por exemplo, o Parque dos Dinossauros Gaúchos – que deve apresentar esculturas em tamanho real, capazes de interagir com os visitantes, projetadas a partir de fósseis de animais que viveram no Estado há 200 milhões de anos.
– Também teremos um carrossel lindíssimo, provavelmente de dois andares, parecido com o de Florença, que vai ser um novo ícone da cidade – adianta Vinícius Garcia, mencionando a verdadeira obra de arte que rodopia na Piazza della Repubblica, na cidade italiana.
Não vai ser fácil enfiar no meio disso uma praça dedicada à lenda da Salamanca do Jarau. E outra que contará a história de Sepé Tiaraju (1723-1756). E mais uma que, além de servir de "espaço do chimarrão", vai mostrar a lenda da erva-mate. De qualquer forma, a ideia é que o porto-alegrense vá se acostumando aos poucos com o novo Parque da Harmonia.
Neste ano, com o consórcio assumindo a área em julho, a ideia é garantir o novo Acampamento Farroupilha e uma primeira repaginada no paisagismo do parque. As obras de infraestrutura começam em 2022, quando a Casa do Gaúcho (que terá um museu) e a churrascaria Galpão Crioulo vão ganhar uma reforma. Nos dois anos seguintes, aí sim, todas as construções devem ser finalizadas.
Dá tempo para pensar em tudo com calma.