Com quase 80% das obras prontas, o trecho 3 da Orla do Guaíba deve aproximar Porto Alegre do que há de mais moderno em urbanismo no mundo.
A inauguração está prevista para agosto – e a atração mais visível talvez seja a maior pista de skate da América Latina, que certamente vai botar a cidade no mapa do turismo esportivo e de competições internacionais. Mas as inovações vão muito além do que o concreto é capaz de mostrar.
Em primeiro lugar, o apelo esportivo da nova área, situada entre o Arroio Dilúvio e o Parque Gigante, se alinha a um conceito cada vez mais valorizado no planejamento urbano internacional: chama-se cidade saudável. O espaço vai ter 29 quadras (de futebol, tênis, beach tennis, vôlei etc), além de duas academias ao ar livre.
– Os governos que investem em opções saudáveis de lazer, mais do que estimular as pessoas a fazerem exercício, estão poupando dinheiro. Quanto mais infraestrutura se oferece para atividades físicas, menos se gasta no tratamento de doenças causadas pelo sedentarismo – diz o doutor em urbanismo Benamy Turkienicz, professor do Departamento de Arquitetura da UFRGS.
Ou seja: cidades que entregam à população opções diversas – e gratuitas – para a prática de esportes acabam introjetando na sociedade uma cultura de valorização da vida saudável. Afinal, essa forma de pensar passa a fazer parte da própria infraestrutura, da geografia, da formatação urbana do município.
Já se percebe a tendência na popularização de ciclovias e nos equipamentos para se exercitar em praças. Mas ainda são poucas as cidades que oferecem alternativas de alto nível acessíveis a todos os públicos. Esse é o diferencial do trecho 3 da Orla do Guaíba, onde a atividade esportiva deve reunir todas as classes em um mesmo lugar.
– Espaços públicos de alta qualidade têm essa característica: por serem gratuitos, atraem as classes sociais menos abastadas e, por serem de alto nível, atraem também os que têm mais dinheiro. Isso estimula as relações entre os diferentes, os desiguais, que, embora vivam realidades distintas, compartilham os mesmos interesses quando jogam juntos futebol ou vôlei – analisa o professor Benamy.
A polarização tende a ser suavizada quando a cidade nos oferece espaços onde é mais fácil aceitar e inclusive querer estar com o diferente.
BENAMY TORKIENICZ
Doutor em Urbanismo
Por que isso é importante? Ora, porque assim se criam condições para que os diferentes se aproximem, se sintam parte da mesma sociedade, rejeitem a ideia do "nós contra eles", revejam estereótipos e preconceitos. Quando só existem espaços exclusivos – "lugar de rico" e "lugar de pobre" –, a História mostra que as segregações e os guetos são inevitáveis.
– A polarização que vivemos hoje, por exemplo, tende a ser suavizada quando a cidade nos oferece espaços onde é mais fácil tolerar, aceitar e inclusive querer estar com o diferente – constata o urbanista.
Em meio à tristeza dos últimos meses, eis um motivo justo para a Capital comemorar.