Visto como símbolo da deterioração do Centro Histórico, em Porto Alegre, um prédio inacabado que de tão feio recebeu o apelido de “Esqueletão” agora pode se transformar em ícone da tentativa de revitalizar a região.
Um estudo realizado por uma startup gaúcha revela que o ponto onde se localiza a estrutura tem potencial econômico superior às médias da zona central e até mesmo da cidade, podendo funcionar como indutor de desenvolvimento de uma área hoje degradada.
A análise indica que a localização seria especialmente favorável à instalação de empreendimentos voltados à educação, mas também de atividades como café, mercado, petshop, entre outras (veja lista completa no infográfico mais abaixo).
Até o momento, o destino do espigão de tijolos à mostra ainda é incerto. O Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (Leme) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fará uma avaliação de sua estrutura. As conclusões vão ajudar a prefeitura a decidir se opta pela desapropriação e demolição ou se será reformado para evitar riscos de desabamento ou incêndio.
Qualquer que seja a escolha, há indícios promissores. O trabalho, feito de forma voluntária pela startup Space Hunter, que atua na área de estudos econômicos e urbanísticos destinados a assessorar empresas em busca de locais para se instalar, destaca que o endereço do "Esqueletão" é um dos mais propícios para novos negócios em toda a região – e mesmo em comparação à média da Capital.
O prédio, localizado na esquina das vias Marechal Floriano e José Montaury, está em uma área que vem perdendo força econômica nas últimas décadas. Como resultado, menos de 20% dos empreendimentos no entorno são novos negócios. Mas, quando se analisa um raio de um quilômetro a partir do prédio inacabado, os especialistas em urbanismo percebem uma série de fatores favoráveis.
Nessa região mais ampla, vivem cerca de 34 mil pessoas com potencial econômico superior a R$ 104 milhões (total de gastos ao longo de um mês), fora a multidão que circula diariamente por ali.
— Uma das zonas quentes que ainda restam no Centro, como são definidos locais capazes de concentrar uma grande quantidade de pessoas, é justamente ali, nas proximidades do Mercado Público e da José Montaury — afirma o arquiteto Francisco Maraschin Zancan, diretor geral da Space Hunters.
Para avaliar o potencial de empreendimentos em cada local, é utilizada uma fórmula matemática que leva em conta fatores como quantidade de moradores no entorno, renda média, potencial de consumo e comportamento da população. Isso resulta em uma escala de zero (menos viabilidade) a 10 (mais viabilidade).
O endereço do edifício erguido nos anos 1950 alcança média de 7,22 para negócios ligados à educação, contra patamares de 6,77 no Centro em geral e 6,59 na média de toda a cidade para esse setor especificamente. De 14 setores econômicos analisados pela startup, o entorno do "Esqueletão" apresenta potencial superior à média municipal em nove.
— A presença do Mercado Público e das paradas de ônibus nas proximidades, levando em consideração que 80% das pessoas que vão ao Centro se deslocam de ônibus, potencializa esse desempenho — complementa Zancan.
O estudo não avalia a condição estrutural do edifício, que pode ser fundamental na decisão sobre manter a estrutura de concreto e tijolos ou substituí-la por uma construção nova. O arquiteto avalia que, se forem mantidos em igualdade outros fatores, como índice construtivo, poderia ser vantajoso erguer um prédio novo em vez de reformar o atual.
— É um prédio antigo. Se fosse feita uma construção a partir do zero, seria possível fazer um projeto mais moderno e bonito, aproveitando melhor questões como iluminação, ventilação, preparo para receber splits, uma série de coisas — observa o arquiteto.
Mas, qualquer que seja o futuro do "Esqueletão", que recentemente se despediu de seus últimos moradores, uma reforma ou a construção de um novo edifício tem potencial para promover um efeito benéfico em toda a região.
— Estamos falando de um prédio muito bem localizado, abandonado há décadas, que por esse motivo causa um impacto negativo. Só de resolver isso, a autoestima da população já melhoraria. Além disso, há um grande potencial para novos negócios, que também podem ajudar a revitalizar toda a região — diz Zancan.