Depois de ser coberto por uma tinta verde, o rosto de Jesus que durante 25 anos chamou atenção no muro da Mauá deve retornar ao paredão.
A remoção da pintura – que saiu para dar lugar ao projeto de revitalização do muro – fez tocar várias vezes o telefone do diretor da empresa responsável pelo restauro. Até o padre da paróquia que ele frequenta se mostrou contrariado.
– Algumas pessoas telefonaram, entenderam como se a gente tivesse tirado Jesus. Não tiramos Jesus, nós tiramos tudo o que estava no muro para poder iniciar uma reforma estrutural – diz Eduardo Ferreira, diretor-geral da Sinergy, empresa que adotou o muro ao lado da HMídia.
Um parêntese aqui, opinião do colunista: que bobagem terem se incomodado com isso. Por mais emblemática que a imagem fosse, a renovação completa do muro da Mauá talvez seja a única forma de levar alguma dignidade àquela aberração urbanística que, há 50 anos, separa a Capital de um dos seus maiores símbolos: o porto que até no nome a cidade carrega.
Mas Eduardo – um "católico fervoroso que respeita todas as religiões", como ele próprio se define – diz que vai procurar o artista Richard John, autor da antiga pintura, para levar de novo a imagem de Cristo ao muro da Mauá. Lembrando que a intenção dos adotantes, com a revitalização, é transformar o paredão em uma galeria de arte ao ar livre – não apenas com grafites, mas com telas de LED expondo obras digitais.
– Vamos dar todas as alternativas para ele, pode fazer como quiser. Pode ser uma releitura, ou, daqui a pouco, se quiser fazer outra coisa, eu é que não vou doutrinar – pondera Eduardo.
Procurado pela coluna, Richard John afirmou que, se for possível reinventar a obra – sem fazê-la igualzinha como era –, não há por que negar a proposta.
– Acho legal saber que tem essa demanda das pessoas. Mas seria uma nova fase, uma outra coisa: talvez recriar a imagem de forma eletrônica, não sei, vamos ver – cogita o artista.
Mas já dá para dizer que o Jesus da Mauá também vai ressuscitar.
Com Letícia Costa