Vinte e cinco anos depois, o mais antigo e emblemático desenho do muro da Mauá finalmente desapareceu. Mas não sem resistência: quem olha com calma ainda enxerga o rosto de Jesus por trás da pintura verde que cobriu os grafites do paredão na semana passada.
O Cristo concebido em 1996 pelo artista Richard John ganhou status de intocável nas últimas décadas. Enquanto os outros desenhos eram trocados de tempos em tempos, a imagem de Jesus resistia aos mutirões de grafitagem que renovavam o muro.
Uma reportagem de GZH, em 2019, mostrou uma espécie de código de conduta entre os artistas: por considerarem a figura marcante demais para ser substituída, ninguém pintava em cima dela. Mas tudo tem seu fim.
– A arte de rua é efêmera, costuma resistir por um período no cenário urbano. Às vezes, pode até ser chato que fique tempo demais. E eu sou muito grato por essa imagem ter durado tanto – diz Richard John, hoje aos 55 anos.
A pintura que agora o cobre o muro da Mauá – alguns trechos são verdes, e outros, pretos – é apenas uma preparação da parede para as novas intervenções.
– São marcações, na verdade. Onde está verde, teremos jardins verticais separando os blocos temáticos – adianta Eduardo Ferreira, diretor-geral da Sinergy, empresa que adotou o paredão ao lado da HMidia.
Nos outros pontos do muro, os adotantes prometem uma galeria de arte ao ar livre – não só com grafites, mas com telas de LED expondo as obras –, além de uma cascata com água, trechos contando a história da cidade e uma série de homenagens a personalidades da cultura e do esporte daqui. A intenção é que o conteúdo mude a cada dois meses.
– Vai ser um mosaico com LED, lonas, painéis, backlights, frontlights... Queremos fazer o maior mosaico de arte a céu aberto da América Latina – projeta Ferreira, prevendo a conclusão para dezembro deste ano.
Quando ficar pronto, no entanto, a prefeitura ainda deverá avaliar se inaugura o novo muro ou se espera até março, quando Porto Alegre vai completar 250 anos sem o Cristo que marcou os últimos 25.