Ela não exibe folhas nem flores: a incrível quantidade de tênis é a principal atração da paineira de 13 metros de altura ao lado da pista de skate do Parque Marinha do Brasil.
Trata-se de uma tradição entre skatistas: quando os calçados furam ou rasgam, o que é frequente na prática do esporte, eles atam os cadarços e lançam o par de tênis sobre a árvore mais próxima. Não é possível contar quantos estão pendurados na paineira do Marinha, mas passam fácil de uma centena.
Conforme o biólogo Flávio Barcelos Oliveira, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, a prática prejudica, sim, o desenvolvimento da árvore:
– Qualquer corpo estranho, além de trazer um peso extra, retém a umidade do vegetal. Isso interfere no metabolismo, na circulação da seiva e no crescimento dos ramos jovens.
Flávio entende que as pessoas deveriam repensar esse tipo de comportamento – o ideal seria que o vegetal desfrutasse das melhores condições possíveis para viver. No caso da paineira, ela já fica na beira de um barranco, em um solo de aterro.
– Isso já dificulta para o vegetal a plena captação dos nutrientes. Não tenho dúvida de que a árvore se desenvolveria melhor sem a intervenção dos calçados – afirma o biólogo.
Não quer dizer, no entanto, que a paineira esteja em risco. Pelo contrário: daqui a pouco, na primavera, suas folhas vão ressurgir com uma saudável coloração que, segundo Flávio, se assemelha a "um lindo pôr do sol". Teremos, então, mais um motivo para olhar para cima.
Com Letícia Costa