A notícia de que Porto Alegre terá o primeiro Museu da Cultura Hip Hop do país é cheia de símbolos. O primeiro está no próprio conceito de museu: quase sempre há uma conotação mais erudita quando se ouve essa palavra. E é espetacular que um movimento de gueto, forjado e desenvolvido nas periferias, ocupe um espaço que antes parecia exclusividade da alta-roda.
O museu vai ser montado na Vila Ipiranga, na Zona Norte, no prédio de uma escola desativada que a prefeitura cedeu à Associação da Cultura Hip Hop de Esteio. Obviamente, não vai ser um ambiente sofisticado e cheio de rococó: vai ser um museu com grafite, com rodas de break, com objetos e vídeos e fotos e roupas que contam a história do hip hop no Rio Grande do Sul.
A meta dos organizadores é receber todo ano pelo menos 15 mil alunos de escolas públicas. E é justamente essa vontade de penetrar nos redutos da juventude (que vão de colégios a pistas de skate), sempre levando o rap ou o grafite como alternativa de vida, que faz da cultura hip hop um movimento em ascensão permanente.
Tivemos nesta semana o Dia Mundial do Rock – e eu, como roqueiro que sou, não posso deixar de traçar um paralelo. É incrível como o rock perdeu, nos últimos anos, o poder de mobilização de massas, de fascínio e de influência sobre jovens sedentos por falar, gritar, protestar, se expressar. Claro que sempre haverá jovens fazendo rock, mas dentro de um nicho, dentro de um segmento específico. O rock virou uma manifestação de classe média.
Já o hip hop – que, além do rap e do grafite, traz todo um código próprio de vestimenta, de linguagem e de estilo de vida – tem desempenhado com competência essa função de representar aquele jovem que, justamente por estar na periferia, longe da voz dominante dos centros urbanos, clama por ser escutado. No hip hop, os anseios desse jovem são acolhidos. E agora até museu ele vai frequentar.