Anunciado por Sebastião Melo como futuro secretário municipal de Mobilidade Urbana, o ex-deputado Luiz Fernando Záchia (MDB) promete uma gestão disruptiva para baixar o valor da passagem em Porto Alegre. Ele afirma que "não dá para manter as coisas como estão" e que é preciso coragem para mudá-las. Nesta terça-feira (29), Záchia atendeu a coluna por telefone.
O senhor tem falado em cortar gratuidades no transporte coletivo. Mas quais exatamente?
Hoje, 30% dos usuários são isentos da passagem. Policial fora de serviço, acompanhante de cadeirante, estudante com boa renda familiar, esses são alguns exemplos que podem ser revistos. É claro que o estudante de escola pública precisa da meia-passagem. Mas o aluno de uma escola particular caríssima, ou o estudante de uma faculdade de Medicina que custa R$ 8 mil por mês, precisa mesmo disso?
Entre os projetos que o governo Marchezan apresentou à Câmara, alguns poderiam ser aproveitados?
No mínimo metade deles. Aquela Taxa de Mobilidade Urbana (que seria paga pelas empresas à prefeitura, acabando com o vale-transporte e garantindo passe livre a todos os trabalhadores com carteira assinada) era uma ideia muito boa. Mas ela ainda precisa ser exaustivamente discutida. Marchezan, infelizmente, não conseguiu construir um ambiente para esse debate.
O que falta debater?
É preciso discutir valores e percentuais diferentes para empresas com realidades diferentes. Algumas têm poucos funcionários que andam de ônibus. Pela proposta atual, elas passariam a pagar essa taxa para todos os funcionários. Não tem como. Talvez esse projeto, se for aprovado com novas regras, não garanta o passe livre, mas pode ajudar a reduzir o valor da tarifa.
Que outras iniciativas para baixar o valor da passagem estão em mente?
Além do corte nas gratuidades, que já mencionei, vamos ter que tirar os cobradores. Não tem saída. Vamos fazer uma escola para capacitá-los para outras funções. À medida que os motoristas, por exemplo, forem se aposentando, esses cobradores treinados vão entrando no lugar. Isso também vai ter um impacto grande na tarifa.
Quero fazer tudo com responsabilidade, com diálogo, mas algumas indisposições talvez sejam inevitáveis.
Urbanistas do mundo todo têm criticado o estacionamento de carros em vias públicas. Qual é a sua visão?
Com menos carros estacionados na rua, o trânsito ganha mais fluidez. Isso é inquestionável. E, com mais fluidez, o dinheiro que seria investido em obras de duplicação pode ser gasto em outra coisa. Uma alternativa são os estacionamentos públicos. Miami e San Diego têm espaços assim. Aqui em Porto Alegre, há uma quantidade enorme de terrenos do município que poderiam receber, por um valor razoável, carros que normalmente estacionariam na rua.
Esse tipo de medida mais, digamos, disruptiva deve nortear seu trabalho?
Eu não vim para fazer a mesmice. Quero fazer tudo com responsabilidade, com diálogo, mas algumas indisposições talvez sejam inevitáveis. Não dá para manter as coisas como estão. E um pouco de coragem é fundamental para mudá-las.