Um desafio gigante aguarda a administração de Porto Alegre logo depois da posse. Fevereiro é o mês da atualização da tarifa do transporte coletivo na Capital. Em 2021, as perspectivas são claras. Ou a prefeitura investe milhões de reais no sistema, ou os porto-alegrenses terão de pagar uma super tarifa.
Isso ocorre porque o cálculo do preço da passagem é influenciado diretamente pelo número de passageiros do ano anterior, o IPK, índice de passageiros por quilômetro. Com a pandemia, esse indicador foi fortemente abalado. Pelos cálculos da ATP, dezembro apresenta uma queda de cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Houve meses em que a ocupação dos veículos foi ainda menor. É cedo para falar em um percentual de reajuste, mas é bem possível que, se a lei for aplicada ao pé da letra, ele ultrapasse os dois dígitos. Salários de motoristas e cobradores, combustível e desgaste dos veículos são outras variáveis que também contam.
Nos bastidores da nova gestão, cresce o entendimento de que, pelo menos no primeiro momento, o aporte de recursos públicos para que o sistema não colapse é praticamente inevitável. Teoricamente, as maiores resistências internas poderiam ser esperadas da ala liberal, liderada pelo vice, Ricardo Gomes. Ele vem afirmando, desde a campanha, que é contra os subsídios.
—Eles são uma confissão de ineficiência do sistema — afirmou.
Mas Gomes também reconhece que a sustentabilidade do transporte público é um problema global e, a interlocutores, tem admitido conversar sobre a possibilidade de aporte do caixa da prefeitura, desde que em um contexto emergencial, por tempo determinado e uma vez incluídos no debate temas como número de linhas, tamanho dos veículos usados, o alto número de isenções, o papel dos cobradores e gestão das tabelas de horários.
O novo Secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Záchia, também já se preocupa com o tema e vê o subsídio como uma das questões a serem postas na mesa de negociação. Representando as empresas, a ATP relembra que, nos últimos dez anos, cerca de R$ 300 milhões foram transferidos dos cofres públicos para a Carris. Também defende a regulamentação dos aplicativos de transporte e aguarda a definição de aspectos que terão impacto direto no funcionamento dos ônibus.
— Se as aulas presenciais voltarem em março, isso terá um impacto de 15 a 20% na ocupação dos veículos — calcula o engenheiro de Transporte Antônio Augusto Lovatto. A manutenção ou não do auxílio emergencial do governo federal é outra variável fundamental e que definirá se as pessoas de movimentarão mais ou menos dentro da cidade nos próximos meses.