Uma dúvida que tenho há dias: por que tanta gente diz que este é o pior momento da pandemia em Porto Alegre? Pergunto porque:
1) O número de internados com coronavírus em UTIs já foi maior: em setembro, eram 347 pacientes; nesta segunda-feira (7), eram 296.
2) A aceleração também já foi maior: em junho, por exemplo, a ocupação dos leitos de UTI dobrava a cada duas semanas. Era uma loucura! Agora, nas últimas duas semanas, o aumento foi bem menor: 16%.
3) Por fim, as restrições às atividades econômicas são mais brandas hoje do que vimos em junho ou março, quando o comércio e os restaurantes fecharam completamente.
Por que, então, o momento atual seria o mais delicado de todos? Ouvi alguns epidemiologistas, e eles me explicaram. Sobre o primeiro tópico: quando a cidade atingiu o pico de pacientes internados, em setembro, havia uma estabilidade na ocupação dos leitos. O número variava entre 320 e 340 – era bastante, mas não havia uma tendência de crescimento.
Hoje, há. A quantidade de doentes indo para UTI cresce sem parar. Verdade que esse crescimento ocorre em um ritmo mais lento do que vimos, por exemplo, em junho. E aqui vem a explicação para o segundo tópico. Lá em junho, quando houve aquela disparada, com a ocupação dos leitos dobrando a cada duas semanas, Porto Alegre tinha 70 pessoas internadas. Hoje, são quase 300.
Quer dizer: a margem de segurança, agora, é muito menor. Qualquer novo aumento na aceleração pode levar o sistema de saúde ao colapso, já que o limite da capacidade, hoje, está bem mais próximo do que em junho. O lado bom é que, como o ritmo do crescimento ainda é lento, é possível adotar medidas menos drásticas. E aí vem o terceiro tópico.
No cenário atual, a prefeitura entende que é possível fazer alguns testes, com restrições menores, antes de partir para medidas drásticas.
Quando o crescimento é acelerado demais, os governos tendem a impor restrições mais pesadas às atividades econômicas. Porque é preciso frear rapidamente o aumento nas internações. No cenário atual, a prefeitura de Porto Alegre entende que é possível fazer alguns testes, com restrições menores, antes de partir para medidas tão radicais.
Justamente por isso, o secretário municipal adjunto de Saúde, Natan Katz, tem dúvidas se este é, necessariamente, o pior momento da pandemia. Afinal, o sacrifício da população talvez tenha sido maior meses atrás, quando tudo fechou. Questionado sobre quais são as chances de apertarem as restrições nas próximas semanas, Natan responde com cautela:
– Acho que são médias: nem altas, nem baixas. É um momento de indefinição.