O cálculo de Marchezan, como se sabe, é muito simples: se conseguir fazer o processo de impeachment se arrastar por 90 dias, pode comemorar. Terá se safado. Porque esse é o prazo-limite que a legislação prevê.
É por isso que a defesa do prefeito procura sempre alguma derrapada dos vereadores. O objetivo é suspender o impeachment na Justiça – já que, na Câmara Municipal, a derrota é uma certeza. Até aqui, Marchezan conseguiu, com um par de liminares, atrasar o processo em algumas semanas, mas nada que lhe desse tranquilidade. Pelo contrário. Passaram-se 45 dias, mas ainda faltam outros 45.
Todos os sinais da Justiça são de que o prefeito, nas próximas semanas, até pode obter novas protelações, mas é improvável que o processo seja suspenso por um tempo maior. Mesmo as decisões favoráveis ao prefeito, até agora, foram no sentido de corrigir os rumos da tramitação – e não de paralisá-la, como a defesa vem pedindo.
Marchezan agora torce para o Judiciário liberar suas 20 testemunhas. A Câmara diz que ele tem direito a 10. Se conseguir as duas dezenas, vai passar por aí a estratégia de procrastinação. Aliados do prefeito lembram que algumas testemunhas moram fora de Porto Alegre e, portanto, "podem demorar mais para ser notificadas". Ou seja, vão fugir da intimação.
Talvez isso retarde o processo por alguns dias, mas não é o suficiente. Se após duas notificações a testemunha continuar se escondendo, o presidente da comissão de impeachment pode, sim, indeferir a oitiva. Aliás, o presidente, Hamilton Sossmeier (PTB), é o vereador que mais trabalha para acelerar a tramitação. A tendência é de que as testemunhas sejam ouvidas em pouquíssimo tempo, possivelmente com sessões pela manhã e à tarde.
– Já tem 10 testemunhas marcadas. Ouvir três ou quatro por dia é uma barbada. E, depois das oitivas, só falta o parecer e a sessão de julgamento – diz um parlamentar que prevê a cassação do prefeito para, no máximo, 20 de outubro.