Uma sucessão de absurdos mostra que algo vai muito, mas muito mal no Dmae.
Na madrugada de quarta-feira (11), ocorreu o que jamais o órgão poderia ter deixado ocorrer: uma imensa caixa d'água no Morro Santana, na zona leste de Porto Alegre, simplesmente transbordou lá do alto. A violência com que a água corria morro abaixo era tanta, que os moradores foram acordados com verdadeiras cachoeiras derrubando portas, inundando casas e arrastando móveis.
Se o acidente fosse à luz do dia, com crianças brincando na rua, imagine a tragédia.
O Dmae informou que houve falha no sensor que avisa os técnicos sobre a situação do reservatório. Perguntei a dois antigos diretores do departamento se a justificativa é aceitável.
Não é.
Se o sistema perdeu contato com a caixa d'água, alguém deveria ter ido pessoalmente verificar. Esses indícios de negligência nem de longe têm sido exceção no órgão municipal. Duas semanas antes da inundação no Morro Santana, o Jornal do Almoço mostrou a apreensão de moradores da Vila Glorinha, no bairro Glória: o deteriorado reservatório que abastece a região estaria prestes a se romper.
– O Dmae reconhece que a caixa está em risco. Os engenheiros, quando vêm aqui, confirmam que ela está sucateada e que algo precisa ser feito, mas ninguém faz nada – disse à coluna o presidente do Instituto Social e Comunitário Arraial da Glória, Renan da Silva.
Segundo ele, há poucos dias o reservatório apresentou mais um problema – a água parou de entrar –, e a comunidade ficou desabastecida por uma semana.
Não é por acaso que o procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino, encaminhou uma representação ao TCE, no ano passado, cobrando providências da prefeitura: o Dmae tem menos da metade dos funcionários que deveria ter. "A defasagem de 56% do quadro gera riscos na continuidade e qualidade dos serviços prestados", diz o texto.
Ontem pela manhã, solicitei uma entrevista com o diretor-geral do Dmae, Darcy Nunes dos Santos, mas a assessoria informou que, por questões de agenda, só seria possível hoje. Enviei, então, quatro perguntas pedindo esclarecimentos sobre os últimos fatos. Não houve resposta até o fechamento desta coluna.