Enfim acharam uma serventia para aquilo ali: estacionamento de Uber. Quem passa pelo Sítio do Laçador e enxerga dezenas de carros estacionados – inclusive com uma barraquinha vendendo pastel – pensa que a turistada se empolgou com a estátua-símbolo de Porto Alegre. Que nada.
– Visitante a gente vê pouco: um ou dois carros por dia. Já motorista de aplicativo, aí dá uns 150, 200 – calcula Marcos Mattana, 48 anos, conhecido no local como "tio do lanche".
A área se tornou atrativa para quem transporta passageiros porque chegam ali as solicitações de viagem que vêm do aeroporto. Não dá para ignorar o que isso diz sobre o Sítio do Laçador: a vocação daquele espaço nunca foi receber gente, famílias, turistas. E é inconcebível que o monumento mais importante do Rio Grande do Sul esteja encravado num estacionamento de Uber.
Nada contra os motoristas que param ali, pelo contrário: é o Laçador que deveria sair, não eles. Em uma via de fluxo intenso de veículos, inóspita para pedestres, a estátua aparece pouco até para quem trafega de carro. Se você está entrando na Capital, vê o monumento de longe, pequeninho, lá do outro lado da pista. Se está saindo da cidade, vê o monumento de costas.
No primeiro semestre de 2020, o Laçador será removido para uma restauração – e a cidade precisará debater se ele retorna para o mesmo ponto ou se ganha uma nova morada. Qual seria essa nova morada?
Minha única certeza é que, se queremos admirar o Laçador como obra de arte, ele precisa estar mais perto dos olhos. E o porto-alegrense já mostrou que concorda com isso: foi um sucesso estrondoso a iniciativa da prefeitura de instalar andaimes no entorno do monumento em março, durante a Semana de Porto Alegre. Finalmente as pessoas enxergaram a estátua, mergulhada em irrelevância naquele local, atrativo só para quem dirige Uber.
Com Rossana Ruschel