A Padre Chagas tem concorrência. Alguns chamam até de ameaça, porque, de fato, há gente deixando de frequentar a rua mais badalada do Moinhos de Vento para se esbaldar na avenida que agora sacode o bairro Auxiliadora.
Com mesinhas ao ar livre, tomada por árvores e varais luminosos, a charmosa Nova York é um fenômeno confirmado por números. Entre 2014 e 2017, a prefeitura não havia emitido um único alvará de bar ou restaurante na via – e, só do ano passado para cá, foram nove. A maioria em uma única quadra: entre a 24 de Outubro e a Mata Bacelar.
– A cidade vai se reinventando. Outras localidades já tiveram esse glamour que agora a gente enxerga aqui – diz o empresário Horizonte Venzon, 60 anos, que se intitula o “vovô da rua” por ter aberto, há 25 anos, o primeiro estabelecimento da quadra: a casa noturna 72 New York.
Mas a agitação cresceu mesmo em 2017, quando um complexo com três torres – duas comerciais e uma residencial – foi inaugurado na esquina com a 24 de Outubro. O empreendimento ainda trazia um shopping a céu aberto (o Pátio 24), com 43 lojas e estacionamento para mil carros. Foi ali que o bar e restaurante Roister se instalou – e logo virou queridinho do público mais refinado.
– Aos poucos, o pessoal começou a migrar de outros bairros. E o aluguel por aqui sai um terço do que custaria na Padre Chagas – afirma João Rodrigues das Neves Neto, 34 anos, que está para abrir seu quarto estabelecimento na mesma quadra: são uma estética e uma esmalteria dentro do Pátio 24, além dos restaurantes Los Cinco Parrillaria e Zero Hei na própria Nova York.
O que nos atrai é essa vibe, as luzes, o pessoal na rua. E o público aqui é mais selecionado.
CAROL BECKER
Frequentadora da Nova York
Coincidência ou não, o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre (Sindha) revela que, entre 2018 e 2019 – enquanto o movimento disparava na via do bairro Auxiliadora –, 11 bares fecharam as portas na Padre Chagas. As amigas Carol Becker e Liana Borges, ambas bancárias de 34 anos, elogiam na Nova York a relação mais intensa com a calçada.
– O que nos atrai é essa vibe, as luzes, o pessoal na rua, coisa que não se vê mais tanto na Padre Chagas. E o público é mais selecionado, mais ou menos da nossa idade – avalia Carol.
Foi justamente com a proposta de “aflorar a interação entre as pessoas” que os donos do Wills, aberto no ano passado, apostaram em drinks compartilhados: a bebida é servida em jarras, poncheiras e suqueiras para que todos possam compartilhá-la. Sócio do bar, Artur Venzon tem 23 anos e é filho de Horizonte Venzon, dono do pioneiro 72 New York:
– Meu pai sempre dizia isso, que a rua ainda iria se desenvolver muito. Ele tinha razão.
Com Rossana Ruschel