Depois de anunciar 22 novos quilômetros de faixas exclusivas para ônibus, a prefeitura acerta novamente ao liberar a circulação de táxis nessas áreas.
Quem discorda tem perguntado: se a ideia é priorizar o transporte coletivo, por que os táxis ganham esse benefício? Por que os aplicativos não? E por que eu mesmo, com meu carro particular, preciso enfrentar engarrafamentos fora da faixa exclusiva, se carrego um número de passageiros semelhante ao dos taxistas?
Em primeiro lugar, o benefício nem é tanto dos táxis – é mais da população, mesmo. Quer dizer: se a pessoa está com pressa, precisa fugir do trânsito, não quer andar de ônibus e, principalmente, tem dinheiro para pagar, existe uma opção. E essa opção, o táxi, faz parte do sistema de transporte público da cidade.
Já os aplicativos – embora sejam os maiores responsáveis pela salutar concorrência que obrigou taxistas a se reinventarem – são carros privados como qualquer outro. E sua frota em Porto Alegre gira em torno de 25 mil veículos, número suficiente para entupir as faixas exclusivas, enquanto os táxis representam 3,9 mil carros.
Oferecer à população, nos horários de pico, uma alternativa de transporte individual com viagens mais rápidas é também uma forma de combater os congestionamentos. Afinal, sempre que alguém trocar o próprio carro pelo táxi, na esperança de chegar antes a determinado lugar, haverá um veículo a menos na rua.
Claro, a ideia também é devolver alguma competitividade aos taxistas – que perdem passageiros para os aplicativos em velocidade arrasadora. Não há nada de errado em favorecê-los, pelo contrário: qualquer modalidade de transporte público precisa de medidas que ajudem a mantê-la em pé. Imagine, por exemplo, se a Uber, a Cabify e a 99 decidem, por qualquer motivo estratégico, cancelar suas operações em Porto Alegre. Se o serviço estatal estiver em frangalhos, a população se dá mal.
No Jornal do Almoço desta segunda-feira (28), meu amigo Tulio Milman sugeriu que, em vez de táxis, as faixas exclusivas recebessem carros com mais de duas ou três pessoas. É uma bela proposta para a EPTC estudar. Mas, ao garantir uma opção a quem tem pressa – seja para levar um familiar no hospital, seja porque está atrasado para um compromisso –, a cidade demonstra até alguma tolerância.