Aos 25 anos, embora venha ganhando destaque na oposição ao governo Bolsonaro, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) decidiu contrariar a orientação do próprio partido: ela apoia publicamente a reforma da Previdência. Tabata sugere alterações, claro, mas rejeita a postura fácil da maior parte dos opositores – dizer apenas que o projeto "é ruim" e não propor coisa nenhuma.
Outro membro da oposição, o deputado de 27 anos Felipe Rigoni (PSB-ES) – primeiro cego a conquistar uma cadeira na Câmara – também defende a reforma. Seu estilo moderado ficou ainda mais evidente em uma entrevista no programa Conversa com Bial, quando foi questionado, por exemplo, sobre a possibilidade de um impeachment contra Bolsonaro:
– Seria uma tragédia. Bem ou mal, ele é o presidente do meu país e precisa dar certo.
O deputado estadual Fábio Ostermann (Novo-RS), 34 anos, crítico ferrenho do ideário esquerdista, chama atenção na Assembleia gaúcha ao repudiar também o discurso da direita brucutu – que abarca inclusive colegas do seu partido. Liberal por inteiro (nada de "conservador nos costumes"), Fábio defende a adoção de crianças por casais gays, é contra o Escola sem Partido e diz que o golpe de 64 foi o que foi: um golpe.
Você pode discordar deles. Pode achar que a nova Previdência é inútil, que os militares fizeram a Revolução, que o impeachment de Bolsonaro seria uma boa. Mas não pode negar a independência ideológica de Tabata, Rigoni e Ostermann. Parlamentares em primeiro mandato, eles estão se lixando se vão perder votos ou trair a cartilha imbecilizante desse ou daquele grupo.
Num momento em que o fundo do poço parece tão próximo, é animador perceber que o futuro pode não ser tão sombrio.
Escrevo sobre esses três – mas poderia escrever sobre outros, como o deputado Tiago Mitraud (Novo-MG) e os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Rodrigo Cunha (PSDB-AL) – porque, num momento em que o fundo do poço parece tão próximo, com extremistas liderando discussões que vão do formato da Terra ao fim da educação sexual, é animador perceber que o futuro pode não ser tão sombrio. Pelo contrário, o futuro promete.
Com a maior renovação dos últimos 30 anos, o Congresso pode até ter recebido uma cambada de furibundos, mas estão quase todos no baixo clero – nenhum deles se destaca tanto quanto esse jovem time de parlamentares, boa parte patrocinada por movimentos suprapartidários, como o RenovaBR, o Agora! e o Acredito, que em 2020 devem chegar com ainda mais força.
Estaria aí a "nova política"? Tomara que sim, embora quem venha tentando abraçar o chavão seja o presidente Bolsonaro – que costuma usar esse termo, nova política, para justificar tudo o que faz de errado: incapacidade para negociar, falta de diálogo, desapego ao decoro. Tudo isso, para Bolsonaro, é o novo. Exatamente o oposto do que fazem Tabata Amaral, Felipe Rigoni e Fábio Ostermann.