Eles dizem que é bacalhau, você compra, até come achando que é, mas o peixe era outro – e deveria ter custado bem menos.
Essa falcatrua na venda do mais tradicional alimento da Sexta-Feira Santa, conforme uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciências Forense da PUCRS, ocorre em boa parte dos estabelecimentos que comercializam o peixe em Porto Alegre. Divulgado em primeira mão pela coluna, o resultado do estudo mostra que, entre 10 mercados e supermercados onde o produto foi comprado, sete entregaram outro peixe como se fosse bacalhau.
As amostras foram coletadas nas semanas que antecederam a Páscoa de 2018 – ao longo dos meses seguintes, os pesquisadores se dedicaram à identificação das espécies, por meio da extração de DNA e da chamada análise de Barcode. Segundo a bióloga Bárbara Calegari, coordenadora do estudo, não há motivos para esperar que, neste ano, a incidência da fraude seja menor:
– Não há inspeção frequente (do Ministério da Agricultura, responsável por fiscalizar) e ninguém suspeita que isso esteja ocorrendo.
Houve, basicamente, dois tipos de tramoia. No primeiro, as etiquetas indicavam o nome científico de peixes que, pela legislação brasileira, estão autorizados a serem comercializados como bacalhau. São eles: Gadus morhua, Gadus macrocephalus e Gadus ogac. Mas o estudo mostrou que se tratavam, na verdade, de espécies como ling, saithe e polaca, que deveriam custar metade do preço.
No outro tipo de fraude, as embalagens identificavam o peixe corretamente – eram ling, saithe ou polaca – e apontavam um valor bem mais em conta. Só que nenhum deles poderia ser vendido como bacalhau. Nesse caso, o preço baixo alavancava as vendas enquanto o consumidor era tapeado. Apenas um estabelecimento vendeu o produto congelado, o que também é proibido – para ser bacalhau, deve ser vendido salgado ou salgado seco.
A bióloga Bárbara diz que, por se tratar de pesquisa científica, restrições jurídicas a impedem de divulgar o nome dos locais – mas, segundo ela, são todos mercados e supermercados tradicionais de Porto Alegre. Para não cair na trapaça, ela sugere evitar a compra de peixe desfiado ou em pedaços muito pequenos. E, se for barato demais, desconfie.