Era a primeira vez que Joelma Lopes levava ao cinema o caçula Pietro, de quatro anos – uma criança especial que se locomove com cadeira de rodas devido a uma mutação genética.
Até havia lugar para o menino, mas só se ele visse o filme sozinho. Foi o que disseram para Joelma na bilheteria do Espaço Itaú de Cinema, no Bourbon Shopping Country, em Porto Alegre, no domingo (28). Com a sessão das 16h lotada, o estabelecimento tinha vendido, para o público em geral, os assentos reservados a quem acompanha cadeirantes – ou seja, Pietro não poderia, como previsto em lei, assistir à animação Dumbo na companhia de alguém.
Joelma ainda estava com João Vítor, 12 anos, irmão mais velho de Pietro, e com um casal de amigos que também queria entrar com um filho cadeirante. Pediram ao bilheteiro que chamasse a gerência.
– Disseram que o gerente não estava, que não havia o que fazer. Aí me deram um papelzinho com um número de telefone para eu reclamar, mas hoje (segunda-feira, 29) liguei seis vezes e ninguém atendeu – lamenta Joelma, 42 anos, bacharel em Direito que hoje se dedica apenas a cuidar do filho especial.
Coordenadora de acessibilidade da Faders, fundação que desenvolve políticas públicas para cadeirantes, Aline Monteiro diz que o Espaço Itaú de Cinema, em última instância, privou Pietro do direito à cultura e ao lazer, previsto no capítulo 9 do Estatuto da Pessoa com Deficiência.
– O cinema oferece espaços para os cadeirantes, como prevê a legislação, mas fere as normas de acessibilidade ao impedir o acesso de quem o acompanha – afirma Aline.
Procurada pela coluna, a assessoria de imprensa do Espaço Itaú reconheceu que "foi um erro imperdoável" e garantiu que entrará em contato com Joelma e Pietro "para se desculpar formalmente". Sobre o telefone para o qual Joelma tentou ligar sem sucesso, a assessoria informou que era "um número já desativado" e que "esse foi mais um erro".