Virou uma zona, basta andar na rua. Se por um lado as patinetes são uma alternativa sustentável de transporte – porque não emitem gás carbônico –, por outro a bagunça que se instalou nas calçadas não deixa de ser uma poluição. Com os aparelhos atirados em qualquer canto, Porto Alegre transmite uma certa impressão de terra sem lei. Mas essa esculhambação é o de menos.
As patinetes elétricas chegaram como opção de mobilidade, o que é ótimo, mas estão atrapalhando a mobilidade mais democrática e natural de todas, que é a locomoção a pé. Não sou contra esses veículos, claro que não: a questão é que, após dois meses de operação em Porto Alegre, não há sinal de que as empresas responsáveis por alugá-los estejam empenhadas em promover um convívio harmônico com a cidade.
Os usuários mal sabem onde as patinetes devem transitar. Na calçada ou na rua? Segundo o CTB, o certo é na calçada – ou na ciclovia –, o que é no mínimo questionável. Se no caso das bicicletas a recomendação, na ausência de ciclovia, é sempre pedalar no leito da rua, como pode um veículo motorizado que atinge 20 km/h dividir espaço com pedestres?
Aliás, não há qualquer aviso, em lugar algum, sobre velocidade máxima, local para largar os veículos, nada. É verdade que as patinetes de aluguel são uma novidade no mundo todo: da Europa aos Estados Unidos, milhares de municípios debatem a melhor forma de regulamentar os aparelhos – alguns locais até decidiram proibi-los, o que me parece um excesso.
Mas, de fato, não é razoável introduzir no espaço público um elemento estranho sem sequer educar as pessoas sobre como usá-lo – e sobre como se proteger dele. Uma reportagem de Jéssica Rebeca Weber, publicada em GaúchaZH, mostrou que um único hospital de Porto Alegre, o Pronto Socorro Cruz Azul, tem recebido de seis a 10 acidentados com patinetes toda semana.
E você já viu piloto de patinete usando capacete? Eu não. Em parte, porque ainda não há uma legislação específica. O diretor-presidente da EPTC, Fabio Berwanger Juliano, lembra que a Grin e a Yellow – as duas empresas que atuam na Capital – estão operando apenas em fase de testes. Ele próprio trabalha na regulamentação que deverá ser apresentada nas próximas semanas, regrando o uso dos veículos.
– Por enquanto, as empresas só têm autorização para 90 dias. É um período importante para avaliarmos a situação, e nós já constatamos problemas. Se as empresas não atenderem às normas, terão de sair – garante Berwanger.