A comerciante Adriana Kauer, 47 anos, já tinha andado com patinetes elétricas nas ruas de São Paulo, mas foi no corredor de ônibus da Avenida Erico Verissimo, em Porto Alegre, que sofreu um acidente com o equipamento. Num domingo de março, dia em que o trecho da via destinado aos coletivos é fechado para lazer, um veículo cruzou a avenida e a obrigou a se jogar no chão para não colidir.
O tombo provocou lesão num dos tendões de uma das pernas. Adriana foi ao hospital, saiu de lá com uma tala e não consegue dobrar o membro até hoje. Assim que se curar, a comerciante diz que não terá problemas em voltar a usar as patinetes. Mas faz um alerta a quem usa o equipamento:
– Acho que as pessoas têm que se dar conta que não é um brinquedo, é um meio de transporte.
Uma estudante de 30 anos, que prefere não se identificar, descobriu da pior maneira que seria preciso mais cautela antes de acelerar as patinetes. Ela conta que levou um tombo em decorrência da irregularidade de uma calçada. Diz que passava pelo Hospital Militar, na Rua Marquês do Pombal, quando o equipamento travou entre pedras e ela foi lançada adiante. Acabou com escoriações no braço e na perna esquerdos.
– Não é o tipo de coisa para usar na calçada de Porto Alegre, visto que a maioria é íngrime e mal cuidada – diz, afirmando que voltaria a usar apenas a passeio e em lugares planos, como a orla do Guaíba.
Responsável-técnico do Pronto Socorro Cruz Azul, Carlos Maltez estima que o local tem recebido de seis a 10 casos de pessoas feridas por acidentes com as patinetes por semana. O médico afirma que, em grande parte das vezes, não são ferimentos pequenos. Fraturas e necessidade de pontos cirúrgicos são recorrentes.
– As pessoas dizem que o aparelho é bom, mas que o problema está na estabilidade devido aos buracos da cidade.
Diretor da EPTC diz que pais podem ser punidos
Fábio Berwanger, diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), chama atenção para a imprudência de usuários, que, por exemplo, optam por trafegar pela rua, o que não é permitido. Pode-se usar em calçadas e ciclovia. Segundo ele, pelo menos até maio, a utilização desses veículos na Capital passa por um período de testes. O órgão está fazendo relatórios e passando feedbacks para as empresas, e assim que for definido que as patinetes ficarão na Capital, a EPTC deve trabalhar em campanhas de educação, uma vez que não há dispositivos legais para punir quem desrespeita as regras de utilização.
Um dos problemas recorrentes observados pela entidade é o uso de patinetes por crianças, sendo que a idade mínima estipulada pelas empresas é de 18 anos. Berwanger ressalta que, se ocorrer acidente ou atropelamento, os pais podem responder por isso.
Apesar dos problemas, ele vê como positivo o uso das patinetes como transporte para pequenas distâncias, que não afeta modais como ônibus ou táxis, e não enxerga como possibilidade real o governo barrar a atuação das empresas ao final do período de testes.
– Esse tipo de serviço está em todo mundo. Deveremos trabalhar com as empresas para que orientem melhor os clientes – conclui.
Projeto pretende regulamentar uso das patinetes elétricas
Tramita na Câmara um projeto para regulamentar o uso de patinetes elétricas em Porto Alegre, ainda sem previsão de votação. A proposta do vereador Marcelo Sgarbossa (PT) estipula o que as empresas já recomendam: velocidade de até 6 km/h em calçadas e 20 km/h em ciclovias. Não há, entretanto, previsão de punição ou meios de fiscalização.
O projeto também prevê que as empresas divulguem um número de telefone ou outra forma para contato com uma central de atendimento 24 horas, a fim de viabilizar o acesso a informações acerca dos equipamentos que estiverem estacionados de maneira irregular, devendo recolhê-los no prazo de duas horas.
Procuradas, as empresas Yellow e Grin, que apesar de operarem separadas na cidade pertencem ao mesmo grupo, disseram que "a operação de compartilhamento de patinetes elétricos (...) está regulamentada pela Resolução 465/13 do Contran, que determina velocidade máxima de 20km/h em ciclovias e ciclofaixas e velocidade de até 6km/h em calçadas. Essa informação está descrita no nosso termo de uso" que "todos os usuários precisam aceitar (...) antes de alugar um equipamento (...)".
Em caso de acidente, as empresas garantem que prestam "todo o apoio necessário à vítima", e que acionam o seguro, quando necessário. Elas não fornecem informações sobre números de ocorrências registradas, circunstâncias, ou se o seguro já precisou ser usado.
Ambas dizem ainda que as patinetes usadas possuem "buzina, farol noturno, luz indicadora de freio, indicador de velocidade e bateria, freio motor e mecânico".
MANUAL DE SEGURANÇA DAS PATINETES ELÉTRICAS
Além de respeitar os limites de velocidade e de ser maior de 18 anos para locar ou pilotar os equipamentos, há outras recomendações de uso das patinetes. Confira:
- O capacete é responsabilidade do usuário. Use-o sempre bem preso à cabeça e ajustado adequadamente
- Dê sempre preferência ao pedestre, que é o mais vulnerável em caso de colisão
- Nunca trafegue com mais de uma pessoa em cima da patinete
- Jamais use celular ou fone de ouvido enquanto conduz a patinete
- Respeite sempre as sinalizações de trânsito
- Jamais conduza o patinete se houver ingerido álcool
- Segure sempre o guidão com as duas mãos
Fonte: Grin e Yellow