Eu sei que ando chato – esse negócio de pedir diálogo, propor acordos, construir um pacto nacional em nome da paz, tudo isso irrita o leitor. Porque é meio pedante, afetadinho. Meio joãozinho do passo certo.
Há duas semanas, não sei se vocês lembram, escrevi que o Brasil precisa mesmo de um pacto para frear essa marcha de insanidade – porque já mataram uma vereadora, balearam a caravana de Lula, ameaçaram o relator da Lava-Jato, sugeriram um golpe no Twitter, tudo em meio à virulência dos extremos, à difusão de mentiras, ao debate interditado, à estupidez das lideranças. Ninguém deu a mínima.
Sete dias depois, minha coluna criticava duramente um projeto do senador Lasier Martins. Foi um sucesso, recebi dúzias de e-mails me aplaudindo e me xingando. As pessoas querem sangue, fazer o quê? Mas, vocês sabem, quem se pauta sempre pela "pressão popular" corre o risco de abandonar as próprias convicções – então terei de ser chato outra vez, só que agora mais ainda.
Porque, além de pedir diálogo, direi em quem você deve votar.
Mas sem imposição, claro. Tanto é que não citarei nomes – não sei nem o nome do meu candidato ainda. Só sei que, para presidente da República, votarei em alguém que consiga governar. Parece uma obviedade, mas há uma série de candidatos já se movendo no tabuleiro que, se forem eleitos, não governarão coisa nenhuma. Não porque não queiram, claro, mas porque não vão conseguir.
Você pergunta a um brasileiro que atributo é necessário para um candidato ganhar seu voto, e a resposta é que ele precisa ser honesto. Evidente que precisa ser honesto, só que ninguém comanda um país apenas sendo honesto. Em qualquer democracia do mundo, um chefe de governo precisa daquele traço meio chato: perfil agregador, habilidade para dialogar, talento para construir consensos, vocação para negociar.
Primeiro, porque isso resulta em uma sociedade menos instável, menos agitada, menos propensa aos conflitos sociais. E, no Brasil – que desde junho de 2013 enfrenta essa inflamada tensão política que agora desemboca em tiros e violência –, raras vezes essa premissa se fez tão necessária.
Uma coisa é ser um moralizador que prega a ética, a honestidade e a retidão, outra coisa é sentar e governar
Em segundo lugar, não há quem governe sem o apoio do parlamento; a história mostra isso. Ainda mais em um país que precisa de reformas e, portanto, de projetos que alteram a Constituição – o que exige três quintos dos parlamentares em duas votações na Câmara e outras duas no Senado. Coloque no Planalto um presidente sem habilidade alguma, e o fracasso será inevitável, como foi inevitável com Jânio em 1960, com Jango em 64, com Collor em 92 e com Dilma em 2015.
Discursos agressivos, que atacam sindicalistas ou servidores ou homossexuais ou empresários ou milionários ou quem quer que seja, funcionam bem para deputados. Porque deputados representam uma fatia da população, são eleitos por segmentos da sociedade que querem ver seus interesses (muitas vezes legítimos) serem defendidos. Só que um presidente representa todos. Ou governa para todos, ou atravessará o mandato colhendo fúria e conflito.
Porque uma coisa é ser moralizador, enfileirar palavras bonitas pregando ética, honestidade e a retidão, outra coisa é sentar e governar. Está muito claro, entre os futuros candidatos, quem não conseguirá governar. Não vote neles. Vote em quem pode, enfim, trazer alguma leveza para este país. Vote no chato que grita pouco e prefere diálogo, acordo, negociação e consenso. O Brasil precisa de consensos.