Tão delirantes quanto as bobagens que a senadora Gleisi Hoffmann (PT) disse no vídeo enviado à Al Jazeera, emissora de TV mais importante do Oriente Médio, são as interpretações do vereador Valter Nagelstein (PMDB) para as declarações da petista: segundo ele, Gleisi estaria "invocando o terrorismo" e "concitando o mundo árabe a um levante contra o Brasil".
Nagelstein é o presidente da Câmara de Porto Alegre, além de vereador mais votado da maior bancada do parlamento da Capital. Deturpações alarmistas sobre o que pensam adversários políticos, especialmente às vésperas de uma eleição, são o que se espera de tresloucados que dedicam seu tempo à criação de fake news nas redes sociais. E não de quem teria a obrigação, como líder político que é, de ajudar a frear essa marcha de insanidade que aflige o país.
— Defendo a cassação da senhora Gleisi Hoffmann e, logo em seguida, que ela seja denunciada por infração dos dispositivos da Lei de Segurança Nacional, porque ela está colocando em risco a segurança da população brasileira, de inocentes, de pessoas que, simplesmente por discordarem da posição política dela, estão sendo neste momento objeto de uma ameaça, de uma reprimenda de terrorismo — disse Nagelstein em um vídeo de 11 minutos, com quase 3 mil compartilhamentos, em sua página no Facebook.
Só que Gleisi não fez nada disso. Nos três minutos de depoimento à Al Jazeera — que, vale frisar, nada tem a ver com grupos terroristas —, a senadora enfileira as mesmas falácias que ela e outros expoentes do PT já levaram a emissoras dos Estados Unidos e da América Latina. Gleisi repete que "Lula é um preso político", que "foi condenado por juízes parciais", que é vítima de "uma campanha de mentiras" da Globo e que "nunca cometeu crime algum".
Em meio a essa ladainha conspiratória, a presidente nacional do PT classifica Lula como "um grande amigo do povo árabe" e menciona aproximações do governo dele com o Oriente Médio. No fim do vídeo, antes do bordão "Lula livre", ela conclama "a todos e a todas a se juntarem conosco nesta luta".
Nada que não tenha dito à imprensa de outros países, dentro da já conhecida estratégia de "alertar o mundo" sobre um suposto complô contra o ex-presidente. O problema é que, enquanto o PT dissemina essa fantasia, seus adversários gaúchos – como Valter Nagelstein e a senadora Ana Amélia Lemos (PP) – conseguem produzir delírios ainda mais irracionais ao enxergar incentivo ao terrorismo em uma lengalenga tão rotineira.
Na inflamada tensão política que o Brasil enfrenta, milhares de pessoas tomam essas alucinações como verdade. E o único terror que se avizinha é a campanha eleitoral que nos espera.