Uma das melhores séries destes tempos é também a que mais elementos tinha para dar errado. Sátira política de humor negro envolvendo republicanos, democratas e alienígenas? Quem apostaria meia pataca numa ideia dessas?
O cineasta Ridley Scott fez exatamente isso. Depois de produzir a ótima The good wife, ele lançou Braindead, a série de que falamos. Braindead quer dizer "morto cerebral", e em Braindead os mortos passam muito bem, obrigado. Na verdade, tão bem que praticamente tomam conta do mundo. E o mundo nem percebe, de tão "braindead" que mundo, especialmente o da política, anda atualmente.
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A tese essencial é esta: a política norte-americana vive dias descerebrados. Os republicanos inventaram a guerra cultural e dividiram o país em dois lados que não se entendem, e, quando entendem, não se gostam. Os dois lados defendem ideias e valores praticamente opostos, e um lado tem a absoluta certeza de que o outro nada tem a dizer que valha a pena escutar. Em Braindead, esse mundo é potencializado pelos alienígenas invasores de orelhas. Quem é democrata, fica insuportavelmente democrata. Quem é republicano acorda adorando o Donald Trump.
Braindead é criada e escrita com gente com excelentes cérebros e em ótima forma. A série consegue ser adoravelmente mórbida, o que não deixa de ser um mérito, e profunda em sua análise da disfuncionalidade da política atual – e não apenas nos EUA.
Veja e compre um mosquiteiro ou tapa-ouvidos por motivos óbvios pra quem vê. Essa é a dica, e ela é que fica.