Aconteceu comigo num cemitério da zona norte da Capital, onde meus parentes costumam passar a eternidade. Eu era menino e acompanhava minha mãe, que ficava um tempo enorme limpando e enfeitando com flores a última morada de nossos antepassados. Era um final de tarde, o sol já se pondo atrás dos eucaliptos. Então, resolvi me afastar um pouco e comecei a caminhar entre os túmulos silenciosos, impressionado com algumas esculturas. Parei diante de um enorme Cristo, que também parecia me observar do alto de seu pedestal.
Aí tocou a sirene de final de visitas. Fiquei petrificado, os cabelos (que saudades!) completamente arrepiados. Hoje sei que foi apenas coincidência, mas naquele momento me deu um pavor.
Hoje, quando algum acaso me impressiona, sempre me lembro daquele episódio da infância. Foi o que ocorreu recentemente na cerimônia de coroação do rei Charles III, da Inglaterra. Tudo planejado, tudo ensaiado cuidadosamente para nada sair dos trilhos. Aí uma câmera localizada dentro da Abadia de Westminster flagra o vulto da morte passando lentamente diante da porta da igreja. Antes que o público fosse informado de que se tratava de um sacristão vestido com capa e capuz, carregando uma vara de limpeza e não a foice da ceifadora, meio mundo se arrepiou. Nas redes sociais, memes traduziram o susto: “A rainha Elizabeth veio ver tudo de perto!” – escreveu um gozador. “A princesa Diana veio azarar a Camila!” – brincou outro.
A verdade é que o tal Sobrenatural de Almeida – personagem criado por Nelson Rodrigues para justificar derrotas do seu Fluminense – aparece quando a gente menos espera. Quase sempre é coisa do nosso mundo, mas pode ser também um fenômeno cerebral que nos faz ver o que não existe. A chamada “presença-fantasma” é uma realidade. A pessoa está sozinha em determinado lugar e sente que alguém a observa. Segundo um estudo suíço, o fenômeno decorre de pequenos distúrbios neurológicos relacionados à autoconsciência e aos movimentos do corpo. Temos mesmo a sensação de que há alguém por perto quando, na verdade, estamos sós.
É bem assustador isso. Mas a gente também pode se assustar por nada. Recentemente fui ao centro da cidade com minha mulher e, na Rua da Praia, passamos por um robô de dois metros de altura que dançava, fazendo propaganda de um bazar. Em seguida, quando subíamos a Rua General Câmara, começamos a ouvir um barulho de latas bem atrás de nós, como se fossem os passos do gigante. Voltei-me, pronto para correr.
Era um gari conferindo as lixeiras com batidas de vassoura. Ufa!