Porto Alegre deve ser, seguramente, a capital brasileira das farmácias. Num levantamento de 2019 divulgado em GZH, com base em registros oficiais do Conselho Regional de Farmácias (CRF-RS), havia cerca de 700 estabelecimentos do gênero na cidade, quatro vezes mais do que o parâmetro recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Na mesma reportagem, uma consumidora opinava:
— Se tem tantas é porque há compradores para os remédios.
Elementar, minha cara senhora. E o alto consumo de medicamentos pelos porto-alegrenses (e pela gauchada, em geral) não é coisa nova. Andei pesquisando nos jornais de antanho e fiquei abismado com a quantidade de anúncios de remédios. Num recorte do início dos anos 1900, encontrei verdadeiras pérolas do marketing farmacêutico. Em alguns casos, pérolas mesmo. Vamos lá:
Um dos anúncios mais intrigantes é o do “cinturão electrico Herculex” que, segundo seu inventor, um tal doutor T. C. Sanden, de Nova York, curava “rheumatismo, nevralgia, paralysia, dyspepsia e até debilidade geral”. Só não dizia se dava choque. Já a Emulsão do dr. Rocco, com óleo puríssimo de bacalhau, era um remédio de efeito admirável contra todas as moléstias produzidas pelo “depauperamento do organismo”. O vinho iodo phosphatado de V. Werneck era anunciado como um poderoso medicamento no tratamento de tuberculose, escrophulose e neurastenia.
Na época, eram comuns, também, os depoimentos de doentes atestando curas milagrosas, como o sujeito mordido por uma cobra jararaca que voltou à vida depois de tomar uma tal Tintura de Plumeria, fabricada em Pelotas. O Elixir Tonico, fórmula do dr. Nogueira Flores, era anunciado como extremamente eficiente na cura de tuberculose pulmonar, anemia, neurastenia e convalescência de moléstias agudas. Para prevenir febres comuns em países insalubres ou úmidos, outro anúncio sugeria “pérolas de sulfato de quinina de Clertan”, assegurando que elas eram inalteráveis e conservavam infinitamente sua eficácia em todos os países e climas. Já a Manacaroba, um depurativo de plantas da flora brasileira, era anunciado como um poderoso “anti-rheumatico, anti-syplitico, anti-herpetico e anti-arthritico”.
Etarismo à parte, tinha até um anúncio explicitamente direcionado “Aos velhos”, com o seguinte apelo: “Enfraquecidos pela edade, aconselhamos o uso do vinho Quinium Labarraque, na dose de um cálice, dos de licor, depois de cada refeição como alívio para estados de languidez, de fraqueza e de anemia”.
Pharmácias, farmácias... Como recomenda a piadinha que se popularizou por aqui, não demore ao sair de casa porque, na volta, pode ter uma no lugar da sua residência.