Eu nasci com 3 bilhões de irmãos e agora tenho mais de 8 bilhões. Nossa casa comum, o planeta Terra, tinha aquele número de moradores na metade do século passado e agora tem quase o triplo, todos consumindo vorazmente os recursos naturais e poluindo ares e mares com seus resíduos. No período da vida de um único indivíduo – este escriba ignorante ou o célebre antropólogo Lévi-Strauss, que foi um dos primeiros a chamar a atenção para o fenômeno –, o mundo vem passando por mudanças cada vez mais radicais e aceleradas.
No calendário geológico, já saímos do Holoceno (12 mil anos desde a era do gelo até recentemente) e ingressamos no Antropoceno, caracterizado pelos estragos da espécie humana no planeta. O conjunto de fatores que define o atual momento é bem conhecido: explosão populacional, uso intenso de recursos naturais e alterações do meio ambiente, especialmente o aumento na concentração atmosférica dos gases do efeito estufa. Tudo isso potencializado pela chamada “grande aceleração”, que se caracteriza pelas vertiginosas transformações científicas, tecnológicas e na área das comunicações, com impactos significativos no comportamento humano e no meio ambiente. A tecnologia avança numa velocidade tão frenética que o ser humano já não consegue acompanhá-la apenas com seu próprio cérebro. Precisa recorrer à inteligência artificial, que opera num ritmo ainda mais acelerado.
A ONU e os cientistas de diversas áreas do conhecimento vêm fazendo sucessivos alertas sobre a crise climática, em tons verdadeiramente apocalípticos. Está ficando cada vez mais quente por aqui, as geleiras derretem, o nível dos oceanos sobe, o desmatamento avança, estamos respirando fuligem e partículas de plástico contaminam nossos alimentos. Em breve, garantem os entendidos, se não mudarmos logo de comportamento, não haverá mais vida na superfície terrestre.
Pode parecer catastrofismo, mas a verdade é que já tem gente tentando fugir para outros planetas, como se pode ver nesta nova corrida espacial financiada por bilionários da tecnologia. Só que a maioria de nós – negacionistas, apavorados e indiferentes – terá que ficar por aqui mesmo, para o que der e vier.
Se vamos ficar, temos que desacelerar. E encarar o chamado mal do século, que é a ansiedade. Adaptando aquele conhecido conselho dos nossos avós, devagar com o andor que o planeta é de barro. Quem tem pressa tropeça.