Porto Alegre tem hoje 707 farmácias, o que representa uma para cada grupo de 2 mil habitantes. Isso é quatro vezes mais do que o padrão recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF/RS), Silvana Furquim afirma que há regiões com alta concentração de lojas e outras pouco atendidas. Leia a seguir trechos da entrevista concedida a GaúchaZH.
As farmácias atingiram o teto de crescimento na Capital?
Segundo dados fornecidos pela Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), o faturamento das farmácias em 2018 atingiu R$ 120,3 bilhões, alta de 11,76% em comparação com o ano anterior. As farmácias sentem efeito tardio da crise, mas continuam com o faturamento crescendo todos os anos, já que trabalham com produtos de primeira necessidade, os medicamentos. Observamos que existe um numero maior de farmácias do que a necessidade da população, portanto, a concorrência entre os estabelecimentos ocorre pelos melhores espaços físicos, com a tendência das megafarmácias, com grandes espaços físicos e estacionamento.
Porto Alegre tem um estabelecimento para cada grupo de 2 mil pessoas, enquanto a OMS sugere uma relação de uma para oito mil pessoas. O que explica essa grande proporção?
As pessoas vão até as farmácias por necessidade, não por opção. Nosso sistema de saúde ainda é baseado na medicalização, ainda estamos longe de ações preventivas e alternativas ao uso de medicamentos. Assim, existe um grande público consumidor de medicamentos, que é disputado pela concorrência entre as farmácias.
Percebe-se que há uma concentração de farmácias em alguns pontos específicos de Porto Alegre, como na Rua da Praia e, mais recentemente, na Avenida Getúlio Vargas. Por que há essa tendência?
Com a enorme concorrência do setor e o direcionamento das farmácias para um perfil mais comercial, focado no faturamento, é lógico pensar que as estratégias de localização são determinantes para o sucesso do negócio. Locais de grande fluxo de pessoas, próximos a centros de saúde, como hospitais e postos de saúde, locais com facilidade de estacionamento, sempre serão prioritários para as farmácias. Como não há interesse do gestor municipal em criar regramento adequado para a localização das farmácias, estabelecendo critérios técnicos e racionais para permitir a instalação de novas farmácias, pois o município também tem interesse em arrecadar impostos do grande faturamento do setor, acabamos por ter o interesse comercial direcionando várias farmácias para os mesmos locais e disputa pelos clientes. A consequência é que temos a concentração de farmácias em alguns pontos da cidade e muitos outros pontos, de baixo interesse comercial, desprovidos desses estabelecimentos.
Qual a perspectiva no futuro próximo para o setor farmacêutico em capitais como Porto Alegre e para o Brasil de forma mais abrangente?
Como o foco puramente comercial das farmácias já está atingindo seu ápice, onde os descontos e preços de medicamentos já não são suficientes para fidelizar clientes pois os usuários circulam entre as farmácias e pesquisam os preços mais baixos, a grande tendência das farmácias, que já está acontecendo, é a mudança do foco comercial para o foco de estabelecimento de saúde.
Com a publicação de Lei Federal 13.021/14, pela qual as farmácias passam para o patamar de estabelecimentos de saúde, como unidades de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva, estamos vivendo uma revolução no setor, com maior investimento e contratação de farmacêuticos, profissionais capacitados e voltados para o cuidado em saúde, oferecendo vários serviços farmacêuticos, como aplicação de medicamentos injetáveis, vacinas, aferição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos do paciente, para fins de acompanhamento da farmacoterapia e rastreamento em saúde, além de realizar e registrar as intervenções farmacêuticas junto ao paciente, família e cuidadores.
Ressalta-se o fato de que a Lei 13.021/14 cita ser obrigatória a presença de farmacêuticos suficientes para todo o horário de funcionamento das farmácias e que os farmacêuticos estabeleçam o perfil farmacoterapêutico no acompanhamento sistemático do paciente, mediante elaboração, preenchimento e interpretação de fichas farmacoterapêuticas.