O que mais me comoveu na estranha cerimônia do Oscar da pandemia foi a manifestação da norte-americana Frances McDormand, melhor atriz com o premiado Nomadland. Na hora do agradecimento, além de uivar como um lobo para homenagear um companheiro de equipe falecido durante as filmagens, ela fez um apelo contundente aos espectadores: “Vejam nosso filme na maior tela possível. E, quando vocês puderem, coloquem o máximo de pessoas possível em uma sala escura para compartilhar essa experiência”.
Ah, a tela grande, que saudade! Saudade das imagens e dos sons que nos envolvem e emocionam, que nos transformam em partícipes da história e que, muitas vezes, reacendem nossos medos e espantos infantis. Sempre penso que a magia da primeira vez se repete em cada projeção quando as luzes se apagam e as pupilas se dilatam na busca da luz e do sonho.
Depois de tanto tempo de isolamento e restrições, tenho saudade também do cinema lotado, do cheiro da pipoca, do ruído das mastigadas e do papel amassado. Acho que aceitaria até mesmo os comentários inadequados em voz alta e um ou outro retardatário tropeçando nos meus pés em busca do seu lugar na sala escura.
Será que um dia voltaremos a compartilhar essa experiência coletiva, como sugeriu a atriz oscarizada? Para falar a verdade, cinema cheio já era uma raridade muito antes da pandemia. Assim como o circo foi um dia o maior espetáculo da Terra antes de perder público para o próprio cinema e para a televisão, também a chamada sétima arte vem sentindo o efeito das telinhas dementadoras das redes sociais e das tecnologias de transmissão de conteúdo online que levam os filmes para a sala das nossas casas.
É sabido que não tem o mesmo encanto. Mas quem quer ser encantado em tempos de maldição?
Cada vez mais temos que aceitar a fuga das salas fechadas e das aglomerações. Não serei eu a condenar os desertores. Porém, como já tomei a segunda dose da vacina sem sentir ganas de uivar como miss McDormand, alisto-me na resistência. Quero ver Nomadland numa tela grande.